Janis Inaê
Posso ficar fazendo muitas voltas e falar de cada um dos meus filhos e derramar meu amor. Todo filho é único. De modo que não tenho quatro filhos, que a minha extrema criatividade me colocou como necessidade de expressão amorosa nesta Vida. Tenho a tríade de Terra colocada na Terra com meus ossos e sangue e com minha espiritualidade, uma Terra como eu.
Mas não é isso que eu quero falar agora.
Eu quero falar desta pessoa que veio pra cá há 3 anos e 9 meses e que me veio chamar de mãe. Essa aquariana surpreendente, que balança a cabeça no tempo correto quando toca MPB, que canta Chico no carro nas nossas idas e vindas, que me faz as melhores perguntas que eu já amei responder, aos risos.
Essa menina que a cada dia se parece mais comigo.
Quando sonhei, aos 16 anos, com uma conversa com uma senhora que me disse que eu teria uma filha, não acreditei que ela viria de maneira inusitada, aos meus 42 anos.
Eu entendi que a vida se recompõe nas energias, as que chamamos de boas ou de ruins, e fazem parte de nós e nos compõe como pessoas.
Eu me vi tão absurdamente sozinha, sem condições de me desenvolver, de protegê-la, de me ajudar, de continuar, com aquela pessoa que foi a que nasceu de mim mais frágil e menor de todas. E como eu poderia dar meu melhor se estava despida de tudo que eu tinha construído de melhor?
Meus amigos me socorrendo em todos os medos e eu socorrendo essa menina que estava no topo das minhas prioridades para fazê-la permanecer na vida, para que ela acreditasse que ela merece esta experiência. Para fazer seu pequeno corpo se adaptar aos alimentos, que ela repudiava, para que ela reagisse a tanta febre, a tanto medo, a tanta coisa impossível de suportar.
E nestes três infinitos anos, eu lhe dei todos os colos que ela pediu, sentindo fome ou sentindo medo, eu só pedia que ela acreditasse, já que para mim, acreditar ficou inatingível.
Mas já se completam dois meses que ela não adoece. está se alimentando. Está cumprindo o que eu pedi para um Deus que eu tinha deixado de acreditar.
Eu, palavra que não queria utilizar neste texto, mas que sustentou sua vida até aqui, me faz entender que ter uma filha é o supremo presente da Vida! Deus é mãe, é mulher e nós somos tão potentes nós duas. Eu dei à Vida uma menina e essa só pode ser a coisa mais milagrosa que eu fiz. Essa menina é como aquela planta que a gente não achava que ia florescer e você olha pela janela e o inverno cruel, que a castigou, a transformou numa roseira que encanta qualquer ser que passa no mundo.
O mundo não é mais o trabalho duro, o suor do rosto, a força bruta e o dinheiro que se gasta por ai. O mundo se elevou por que a feminilidade é forte e especial como aquilo que este planeta ainda não pode compreender.
E estaremos juntas, minha menina grande de escola, ( como ela diz, já que não é mais bebê), para sonhar e dar risada das dificuldades, com essa força de viver que só nós, mulheres, temos. Quem tentar nos machucar, saiba, somos mulheres.
Ninguém toca no feminino sem se queimar. Ah, você verá!
A Terra é mulher e somos nós.
Vejo você, Janis Inaê, fazendo viagens, fazendo teatro, estudando, dirigindo, se embalando, conhecendo chás e curas, aprendendo a fazer caretas, sabendo dizer sim e não, virando a cara para machista e me chamando pra brigar.Vejo a gente mudando tudo o que incomoda por que, minha filha,
NÓS VENCEMOS!