"Paul is dead"

BsB, 20/01/08

Com a invenção da Internet, as cartas perderam o charme que existiam alguns anos atrás. Fazia-se coleção de selos, escreviam-se toneladas e toneladas de cartas todos os dias. Isto sem falar naquela coisa de ficar esperando pelo carteiro horas e horas, quase todos os dias na esperança de boas notícias vindas, só Deus, sabe de onde! Hoje, com as facilidades da tecnologia e principalmente do telefone celular ao alcance de boa parte da população, já não se escreve tanto.

O que me faz escrever para você hoje, é a lembrança do que aconteceu com Paul McCarteney quando ele estava no auge da carreira. Disseram que ele havia morrido em um acidente de carro e que, para substituí-lo, foi convocado um sósia. O grande problema que ficou na minha cabeça, justo eu que “amava os Beatles e os Rolling Stones”, foi a luta dele para provar aos fãs que estava vivo, mas ninguém acreditava na sua versão. Evidência fantasiosa era publicada todos os dias em quase todos os jornais. Tudo levava a crer que era mesmo um caso de sósia. A mais espetacular está registrada na capa do disco Ebbey Road de 1969. (Só para lembrar: é aquele disco onde os quatros Beatles estão atravessando a rua em cima da faixa de pedestre). Nela Paul aparece com um cigarro na mão direita, só que ele era canhoto, todo mundo sabia disso. Isto gerou uma desconfiança enorme entre os seus admiradores mais ferrenhos. Discutimos isto arduamente.

Agora estou eu aqui defronte a um computador, quase que de noite, pensando em suas brincadeiras. É verdade que não tenho lhe dado maiores informações sobre minha amada, mas ela vai bem, obrigado! Sempre pergunta por você. Pergunta quando é que vai conhecê-lo. Sempre dou uma desculpa esfarrapada. A distância às vezes nos aproxima de uma forma diferente, me faz imaginar coisas complicadas e até sufocantes. Não raro me pego pensando se estou vivo ou morto. Às vezes me sinto como se fosse meu sósia, não sei como você vê isto. O caleidoscópio me mostra outros eus: uns nus, outros esquálidos, outros e mais outros, até transparentes. Diferentemente de Paul, fico tentando provar a mim mesmo que estou vivo. Até me belisco, mas o sangue não jorra, a carne não cede. Às vezes pego o telefone para lhe ligar, mas os remédios estão caros, a notícia pode não ser boa. A maré, não está para peixe miúdo.

Nietzsche disse: “Gott ist tot”. Um “filosofo” do Rock’n Roll disse: “Paul is dead”. Ah, como nenhum deles está morto, eu também não devo estar!

Um grande abraço,

Fui...

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 20/01/2008
Reeditado em 03/12/2022
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