Cartas à minha mãe (8/1/25)
Mamãe
O dia hoje começou com uma aparência indefinida, correu meio incerto com uma maré confusa que não se decidia se subia ou se baixava.
Correu o dia e a quase certeza de que eu teria um momento sombrio foi tomando conta e prenunciando a notícia que eu não queria receber e tentava atrasar e desconhecer.
Mas procrastinar não evitou de acontecer o momento lamentável e indesejado. A noite avançou e o Senhor te levou às 23:00 h, e cinco minutos depois, a notícia que ninguém gostaria de receber, chegou anuviando as margens desiguais do meu pensamento, lacerando o meu coração e manchando a minha mente de um sentimento angustiante e dolorido incapaz de ser definido.
A minha alma vestiu-se de tristeza com lampejos de melancolia onde as sombras cobriram as centelhas de luz deixando tudo cinza.
Houve muitas coisas em minha vida que não escolhi, que me chegaram de sobressalto me causando espanto e transformando a minha vida, às vezes para melhor, outras vezes, nem tanto, mas posso afirmar, este episódio mudará o rumo dos meus dias. Serão dias difíceis que não escolhi e ainda não sei como enfrentá-los sem a esperança de te ver, te reencontrar e te abraçar, de te cuidar e de me preocupar com o teu bem-estar e com a tua frágil saúde.
O que eu posso te dizer é que, mesmo que tua idade já fosse adiantada para as pessoas, e que a tua saúde fosse precária, e que eu seja idosa, eu não estou preparada para ser órfã de mãe. Mas ninguém pode escolher o momento nem a forma do acontecimento que é inevitável. É um fato que ninguém espera viver, mas não há escolhas. Então o que me resta é a aceitação e para isto preciso de força, de fé e de esperança na vida eterna.
Então mamãe, roga ao Senhor para dá-me a força e o conforto que necessito para viver sem ti.
Tua filha que ainda não acredita na tua partida
Umbelina Marçal Gadêlha
Floriano, 8 de janeiro de 2025
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