TIGRESA
Ferraz de Vasconcelos, em 9 de janeiro de 2025.
Tigresa, preciso desabafar um pouco contigo através desta carta, porque você me faz muita falta e a saudade lacera meu peito.
Eu me lembro das coisas engraçadas que você fazia, como assistir a uns filminhos no celular. Era uma gracinha! Ficava um tempão assistindo a filmes de passarinho, completamente hipnotizada, como se estivesse em outro mundo. Era cômico e ao mesmo tempo fascinante vê-la daquele jeito. Parecia que você tinha uma alma humana dentro de um corpo felino.
Tigresa, você dormia na minha cabeça, lembra-se? Eu costumava colocar dois travesseiros: o de baixo fixo e o de cima, que eu mexia para me acomodar. Você deitava no travesseiro fixo e ficava mexendo no meu cabelo, como sempre fazia, com aquela delicadeza toda.
Era mandona. Quando pedia uma coisa, não saía de trás de mim, como quem dissesse:
— Humana estúpida! Se você não me der o que quero não a deixarei em paz de jeito nenhum.
Se eu tivesse assistido ao show do Zé Lezim antes, quando ele fala sobre o "muído da mulher" — que é bem engraçado e verdadeiro, por sinal —, saberia logo que teria que fazer a sua vontade. Diria que até se parecia comigo, quando estou com fome e não posso esperar mais tempo, pois fico brava e mal-humorada.
E como você era conversadeira, Tigresa! Tinha várias entonações de miados, uma para cada assunto, por isso se expressava tão bem com sua retórica felina que parecia estar me contando histórias inteiras, como se eu tivesse a capacidade de entender cada entonação da sua voz. Fazia-me sorrir tanto! Por isso sinto tanta saudade.
E quando você gritava como se estivesse sendo espancada? Eu corria feito uma maluca para ver o que estava acontecendo, preocupada, como toda mãe fica com a sua cria. Aí, deparava-me contigo, apenas sendo ameaçada pelo Ariel ou pela Mimi! Escandalosa, como sempre!
Quando eu fazia ritual de ayahuasca, você ficava com a gente. Quando alguém passava mal, você chegava perto, fazia carinho para acalmar a pessoa... Era a coisa mais linda! Você ficava tomando conta de todo mundo, olhando o aparelho de som, como se fosse o DJ do ritual, decidindo qual música devia tocar.
Você era a verdadeira guardiã do toalete, acompanhando qualquer um que resolvesse usá-lo. As pessoas até achavam que você as amava, mas eu, pensando cá comigo, imagino que você pensava: Deixa-me ver o que esse humano fará em meu toalete. Só pode.
Eu jamais poderei me esquecer dos momentos em que você arrepiava os pelos e ficava toda ouriçada. São cenas inesquecíveis! Era sempre arisca e eu imagino que você deva ter sofrido algum abuso na rua, antes de me encontrar. Ao pensar nisso dói meu peito. Ah, como eu a amava, meu bichinho!
Certo dia, uma luz apareceu no teto, lembra-se? Era apenas um vagalume... Eu achei que você ficaria fascinada, observando, atenta, aquela luz piscando e se perguntando: "Que luz estranha é essa no teto da casa?" Seus olhos fitos — arisca, pronta para dar o bote. Mas, para minha surpresa, não aconteceu.
Sinto tanto a sua falta, minha querida Tigresa. Você sempre foi tão única, tão cheia de vida e personalidade. E agora, cada cantinho da casa parece vazio sem você. Às vezes sinto-me melancólica, por não sentir o calor do seu corpo na minha cabeça, enquanto durmo, porque sua energia sempre foi boa e reconfortante.
Espero que esteja bem onde quer que esteja. Com saudade eterna, sua mãe.
Aline Gama