Carta para um Suicida

Carta para um suicida,

Fazendo eco aos mais sombrios trilhos da tragédia, desejo que veja, se ao menos em um instante de clareza, o peso do que está prestes a fazer. Quero que sinta, como um eco que ressoa em seus ossos, a gravidade dessa decisão — um peso que não é só teu, mas coletivo, que alcança os que já te amaram e aqueles que continuam a carregar tua ausência como uma ferida aberta.

O suicídio, muitas vezes, é encarado como um ato de libertação, de fim para os próprios sofrimentos. Mas, quando ele se consuma, ele é mais do que um fim. Ele é uma sentença de morte para todos os que te carregaram nos braços, que te envolveram com seu afeto, mesmo quando não podias sentir. Pai, mãe, amigo, amados... todos morrem com a tua partida. Embora sigam respirando, carregam o luto em suas almas, e assim permanecem em um vazio eterno que nunca se fecha. A morte de um suicida não acontece isolada. Ela é uma explosão que abala os alicerces do mundo, fazendo ruir o que parecia sólido, porque tudo o que nos resta depois de uma partida dessas é a sensação de que algo em nós também foi levado.

Como um drama gótico, te convido a caminhar pelas ruas sombrias de Godons, cidade que jamais vai ver luz por completo, tal como os corações dos que ficam, imersos em uma névoa de perda. Olha para o que se encerra em tua decisão: tua morte se projeta como um fardo para todos aqueles que te amaram. Vê como a saudade vai gritar, ecoando pelas nossas existências, arrastando-nos em uma reflexão incessante, questionando por que não foi possível impedir este desfecho. Não apenas tua vida se esvai, mas também o tecido das relações que pudemos construir, em uma narrativa contínua de tentativas de salvamento.

Tu nos mataste, e com tua morte, mataste tudo o que ficou inconcluso. E nós, imortais na saudade, restaremos a sofrer uma condenação do tempo — um tempo que jamais será o mesmo para nós. Sabemos que não podes ver além da dor que te consome, mas, se fosse possível, talvez entendesses que o vazio que acreditas escapar tem o poder de nos arruinar igualmente.

Esse não é um questionamento de tua dor. É um convite a perceber que, por mais que o desespero te consuma, ele não é o último suspiro. Tu estás atado a nós, a todos nós que ficamos para trás, e na nossa vida, seguimos o peso da tua ausência como uma sombra.

Com pesar profundo, nos vemos mortos também.

Com dor e lágrimas imortais,