HELENA

Ginásio de Esportes de Poá, em 07 de janeiro de 2025.

Lembra-se de quando eu a chamava de dona Helena? Era só brincadeira, afinal, você ainda era muito nova. É uma pena que não poderá ler esta carta, mas espero que meu coração se esvazie com as palavras expressas nesta missiva.

Eu era casado. Você, tenho certeza, não sabia. Você, branquinha, como eu gosto, cabelos-loiros escuros, rosto redondo e pele lisa, coisa que lhe dava o aspecto de mulher mais jovem do que realmente era, apesar dos seus 25 aniversários. Baixinha. Era dona de uns glúteos volumosos, mas na medida para o seu corpo.

Você passou por mim na rua, deu uma olhada de soslaio que foi captada, por minha percepção.

Isso tem mais de um decênio! O tempo não passa, voa, como Falcão-peregrino.

Dias se passaram e você não saiu do meu pensamento. Lembro-me, como se fosse hoje, eu pensando: Se eu a encontrar hoje — e eu estava descendo a pé para a Estação de Ferraz de Vasconcelos para trabalhar — chegarei nela na maior cara de pau. E não é que coincidiu de a gente se encontrar no descidão?

Você caminhava tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Eu apertei o passo para lhe alcançar, coisa que não era difícil, já que suas pernas eram curtas. Quando a alcancei, diminuí a velocidade dos meus passos e fiquei olhando para seu rosto angelical. Você me olhou, a princípio com susto, depois relaxou ao ver que era eu, um rapaz que você já conhecia de vista, então, perguntei:

— Por que você fica me encarando? Eu me referia às duas vezes anteriores que nos vimos e nos encaramos, como se eu não fosse culpado de retribuir aqueles olhares.

— Você que fica me encarando! Você me respondeu, num tom afirmativo, como de quem joga a culpa para o outro.

Pronto! Ali estava formado o nosso primeiro bate-papo, e logo parecíamos amigos de longa data. Contudo, eu era casado e não falaria tão cedo, pois morávamos próximos e eu imaginava que soubesse e que não se importaria.

Quando marcamos nosso primeiro encontro, você já sabia que eu era casado; sabia o que queria e o que eu desejava de você. Por outro lado, Helena, você tinha desejos por mim que eu não imaginava.

Alguns dias se passaram. Trocamos mensagens e nos encontramos nas proximidades, porém em lugares um pouco mais afastados, para que nenhum conhecido nos visse. Na viela que nos encontramos, como amantes famintos de amor, beijamos-nos avidamente. Lembro-me da sua pele lisa e fresca que eu adorava. Os discos dos seios protuberantes, mostravam-me o seu desejo, mas naquele nós somente nos beijamos, porque o seu desejo era estar num lugar privativo comigo. Eu entendi e prepararia dia, local e horário específicos.

E no próximo encontro eu a levei a um motel. Eu lhe despi e pude contemplar seu corpo de pele alva. Fiquei encantado. Entrei com sofreguidão na flor rósea e umedecida, como se fosse a minha primeira vez, e ali gozamos juntos.

Depois disso nossa amizade aumentou consideravelmente, porque eu lhe contava de outras amantes e você me contava dos seus amantes, mas eu sentia que de alguma forma, pelo menos naquele momento da nossa vida, eu era seu número um. Afinal, sempre estava disposta a me dizer sim. Isso me deixava tranquilo e confortável.

Lembro-me de uma vez que fomos ao Ginásio de Esportes de Poá. Naquele tempo a porta do banheiro masculino ficava na parte de fora do ginásio. Era noite. O silêncio pairava. Não havia segurança. A porta do banheiro estava aberta. Entramos. Não era o lugar mais aconchegante para estarmos, mas a aventura e o risco de sermos pegos na avalanche do amor foi maior do que o cheiro do lugar.

Você se abaixou. Estava escuro. Segurou meu membro com tanta delicadeza que que soltei um urro de prazer. Quando o abocanhou com uma suavidade que somente você possuía, segurei a sua nuca e pedi, num gemido:

— Chupa gostoso.

Com a boca ocupada, você não me respondeu, mas me obedeceu por vontade, e nem se passaram três minutos de carícias, eu lhe pedi novamente.

— Vem cá!

Você se levantou e me beijou com doçura. Abaixei sua blusinha. Seus seios lívidos ficaram à mostra. Os bicos claros mais pontudos que eu tinha visto em minha vida, apontados para mim, rígidos e macios. Chupei, acabando-me de prazer, enquanto lhe ouvia gemer baixinho no pé do meu ouvido.

Então, lhe virei de costas. Seus glúteos ficaram para cima, arrebitados. A flor rósea ficou à mostra para mim, como que piscando e pedindo para que eu entrasse... E eu introduzi meu príapo enervado na vulva umedecida até o talo! Foi rápido, porque não poderíamos correr o risco de sermos pegos naquele ato de amor. E eu gozei em suas pernas; você deixou o lente quente escorrer pela perna, sentindo um frenesi quase que incontrolável e disse:

— Que delícia! Você é muito gostoso. Chega estou com as pernas moles.

Essa fala me foi tão satisfatória que relaxei de vez, sabendo que tinha lhe dado o prazer que procurava.

Nossos encontros, a maioria, foram assim, perigosos e aquilo era muito bom para mim, porque eu era casado. Contudo, Mariana, minha esposa, desconfiava.

Em nossas conversas, quando o assunto era velhice, você falava sobre os velhos que ocupavam os lugares nos trens e que aquilo era um verdadeiro incômodo, porque eles apareciam somente no horário de pico, dificultando a vida dos trabalhadores que vinham cansados do mister.

— Ah, eu odeio velho! Eu não quero ficar velha de jeito nenhum! Prefiro morrer nova. Assim não darei trabalho pra ninguém.

Eu nunca compactuei com esse pensamento seu, mas o que poderia fazer? Tinha que aceitar. Afinal, o pensamento era seu.

São tantas lembranças, doce Helena!... Sinto certa saudade, enclausurada pela Morte.

Você gostava de filmes de terror. Eu nunca fui fã, mas sempre gostei de filmes, por isso tinha uma porção de filmes piratas em casa, e no meio deles tinha alguns filmes de terror. Certo dia lhe emprestei uns cinco DVDs. Você sumiu. Achei estranho. Em suas redes, você não respondia. Lembro-me que tinha dois celulares e as quatro operadoras. Eu mandei mensagem para as quatro operadoras e não obtive resposta. Achei estranho demais, porque passaram meses que não nos falávamos e não nos víamos.

A falta de resposta me incomodou. Então, resolvi lhe chamar em sua casa com o pretexto de pegar os benditos DVDs, mas a ideia não era essa e sim saber como você estava e o porquê do sumiço.

Gritei:

— Helena.

Seu pai saiu.

— A Helena está aí? Perguntei.

Ele ficou me olhando, como que desacreditado da pergunta. Seu olhar escureceu, então, disse-me:

— Você não sabe? Ele me respondeu com outra pergunta.

— Não. O que aconteceu?

— Ela morreu. Ele foi curto nas palavras. Talvez fosse a dificuldade de falar sobre o assunto, já que era muito recente.

Fez-se um silêncio no ar de segundos intermináveis, então, perguntei:

— Como?

— Ela teve um câncer no estômago e faleceu dentro de três meses. Foi muito rápido. Quando descobriu, ficou internada e não saiu mais do hospital.

Fiquei chocado com a notícia. Prestei meus pêsames, quando a sua filhinha de um aninho veio andando e se aboletou na perna do avô.

Por causa do pai da menina, você tinha se afastado um pouco de mim, Helena, talvez para tentar aprumar sua vida amorosa, mas não durou muito tempo e já não estava com ele há algum tempo.

— Agora eu e minha esposa iremos cuidar dela.

Seu pai me entregou os DVDs e eu não tinha mais desculpas nem para passar à frente da sua casa. Casa esta que fora construída por você, já que seu pai não tinha condições financeiras para isso. Você era a filha que o ajudava demais, o orgulho, a graça, felicidade...

Que saudade, Helena! Chega dói meu coração! Por que você teve que ter um desejo tão sombrio desse jeito? Hoje, por exemplo, você poderia me acariciar, para me tirar desta solidão. Pena que os mortos não ouvem e nem falam.

Com saudade,

Mênfis Silva

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 08/01/2025
Código do texto: T8236846
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