Então Talvez
Querido vento,
Então, talvez, adeus seja a mensagem. Não porque eu queira partir, mas porque algo em mim precisa silenciar. Eu confio estas palavras a ti, que voas para todos os cantos, que carregas segredos e espalhas verdades. Deixa-as vagar por onde quiserem, chegar a quem precisam, e talvez — só talvez — dissipar a saudade que já me consome.
Talvez este seja um “até já”, mas com uma pitada amarga de despedida. Porque as saudades, ah, como são insaciáveis! Tenho saudades dos dias em que o riso era tudo o que nos unia. Saudades dos momentos em que o tempo era gentil conosco, e podíamos ser só nós. Eu e quem me era querido. Tu carregas estas memórias, vento? Se não, guarda-as em teus sussurros.
Leva contigo, também, minha confissão: eu errei. Fiz chorar aqueles que esperaram mais do que pude dar. Mas, vento, que justiça há em exigir de quem já não tem nada além de pedaços? Eu já sou dela — Deonilde — e nela encontro tudo o que sou. Não há divisão, nem multiplicação possível. Não sou senão inteiro por ela.
Levo comigo o peso de não ser o bastante para o mundo, mas o alívio de pertencer ao coração de uma só. Então, leva também essas lágrimas que me escapam. Elas não dizem rancor; dizem adeus. Porque eu preciso ir. Para onde, não sei. Mas sei que não volto.
Carrega este adeus nos teus braços, vento. Entrega-o a quem dele precisar, ou deixa-o se perder entre as folhas e o céu. Só não o guardes — ele precisa fluir, precisa ser livre.
E ao mundo, que cada um encontre em ti, vento, a paz que me falta agora.
Com tudo que resta de mim,
Alguém que já se despediu.