ÁFRICA A ALMA CHORA
No coração da terra negra, onde o sol escaldante testemunha vidas forjadas em suor e esperança, há um silêncio profundo. Um silêncio que fala de ausências, de lacunas abertas por mãos estrangeiras. No entanto, os gritos da África ecoam nas águas do Ocidente, onde seus filhos buscam mais do que sobrevivência: procuram significado, algo que, talvez, jamais tenham conhecido.
A alma africana, moldada pelo tempo, é hoje uma sombra dilacerada pela fome do reconhecimento. Rios que deveriam oferecer vida carregam o lodo das imposições externas. As terras que abrigaram ancestrais corajosos agora são dominadas por políticas de exploração e divisão. O destino da terra negra foi desviado, trocando suas águas puras por um líquido fétido de influências externas e um poder ilusório.
No fundo do desejo de migração, mora a dor. A promessa ocidental é envenenada: eles dizem que lá há oportunidades, mas ocultam o custo. Lá, as peles negras enfrentam olhares cortantes, que as despem de sua dignidade e as relegam ao lugar do "outro", sempre alienígenas, nunca iguais.
Enquanto isso, na terra natal, o domínio continua. Os próprios filhos da África participam de um ciclo cruel. Vendem sonhos e terras, destroem vidas em guerras não suas, tudo em nome de um poder emprestado. Trocam sua história pela aprovação de quem sempre foi o opressor.
Na esfera íntima, o controle se aprofunda. Corpos negros, tão marcados pela força e pela resiliência, tornam-se mercadorias nos mercados da exclusão. O dinheiro europeu escorre para seduzir, para subjugar, enquanto a cultura africana é enterrada. Mulheres e homens entregam mais que seus corpos: entregam a própria essência por uma chance de existir no sistema ocidental.
A terra negra, forçada a beber dessa água impura, se afoga no paradoxo. Tudo o que é estrangeiro parece mais valioso. Tudo o que é africano é abandonado, etiquetado como insuficiente.
E assim, a alma coletiva da África jaz vazia, os olhos voltados ao Ocidente enquanto o coração ainda pulsa na terra-mãe. Mas há resistência em sua essência. Porque enquanto um filho da terra se ajoelha para beber da água impura, outro luta para limpar as fontes. África ainda chora, mas suas lágrimas, um dia, purificarão os rios.