Eco do silêncio
Eu tenho medo do silêncio que se instaurou em nossa casa após sua ida. Medo de não lembrar mais do som da sua risada, do brilho nos seus olhos quando algo lhe fazia feliz. Tenho medo da dor silenciosa que agora vive dentro de mim, um eco da sua ausência.
Lembro-me bem da última vez que perguntei “está tudo bem?”. Você hesitou, como quem carrega um peso imenso e não quer dividir. “Eu estou bem, é apenas essa tristeza sem fim que não passa”, disse, com a voz trêmula. Não sabia que palavras tão simples podiam partir alguém ao meio. Ver você, meu irmão, aquele que sempre foi minha rocha, desmoronar diante de mim foi como ver o mundo perder o eixo. Eu queria ajudar, queria segurar sua dor, mas tudo o que consegui foi pousar a mão na sua cabeça e oferecer um sorriso pequeno, frágil, como um barco perdido em meio à tempestade.
Tenho medo da sua ida, medo de como será o vazio sem você. Medo do silêncio que vai dominar esta casa, que já não é mais a mesma. Medo de não ser forte o suficiente para aqueles que ainda ficam. E, acima de tudo, tenho medo de que a represa dentro de mim não aguente e todo o rio que guardo transborde, afogando aqueles ao meu redor.
Penso na última vez que a vimos. Sua risada parecia distante, quase uma memória já naqueles dias. Ela lutava contra algo que nós nunca poderíamos vencer. Ainda me lembro do jeito como ela nos olhava, como se quisesse guardar tudo de nós antes de partir. A casa nunca mais foi a mesma desde então, e nós também não somos.
Agora, vejo você lutando contra uma dor que tenta esconder, e eu imagino o que está por vir. O que será de nós sem ela? O que será de você sem a força que ela trazia, mesmo em silêncio? Como vamos seguir, juntos, sem o ponto de equilíbrio que ela era?
À noite, quando a casa se aquieta, esses pensamentos me invadem. Tento me preparar para o que pode vir, mas não sei se existe preparação para a ausência. Para a certeza de que o que era nunca mais será.
Mas quero que saiba, mesmo sem conseguir dizer isso em voz alta, que estou aqui. Mesmo que meu silêncio pareça vazio, mesmo que meu sorriso pareça fraco, eu estou aqui. Não sei como consolar você, não sei como reconstruir o que perdemos, mas sei que, juntos, podemos ao menos tentar não nos perder também.