Carta ao Papai Noel
Querido Papai Noel,
Não sei se o senhor me vê. Sou só um menino franzino de pés descalços já calejados de andar, mas ouço dizer que o senhor tem bondade para dar e pensei: quem sabe, hoje, minha voz, possa lhe escrever?
Não sei se o senhor passa pelas ruas da minha comunidade, onde o chão é de barro e os sonhos têm fome! Aqui, Papai Noel, o brinquedo é a velha lata vazia. Não há bonecos que abracem quem não tem nome. Não tenho árvore de Natal nem fitas para colorir. O meu presente de Natal, quase sempre, é um céu sem chover, para eu ver as estrelas do céu.
O pão que dividimos só sabe se partir, e os dias em que vivo parecem nunca nascer. Mas eu não quero muito, senhor de barba branca. Não precisa colocar no trenó mais peso nem ao saco, mais magia!
Se puder, e se hoje à noite, passar em frente à minha casa, por favor, entre e, por lá, deixe um abraço para a minha mãe manca e um teto para o meu pai, pois ainda moramos de aluguel e há tempos ele perdeu a alegria. Deixe para minha irmã o caderno que ela sonha escrever, com linhas onde os sonhos se desenham em azul e quem sabe, se puder, um sapato para eu poder crescer.
Se não der, eu entendo, a fila deve ser imensa. Mas se o senhor me ouve prometo não esquecer: nem todo presente precisa de laço ou presença, Basta a vontade de amar a quem não pode escolher.
Deixo aqui minha minha gratidão e o meu silêncio,
Que por agora pesa mais que esse pedaço de papel molhado.
Com carinho, me despeço.
Do menino da favela, para o Papai Noel.
Feliz Natal!
Paulo César Coelho