Morrir! Estou no Inferno e Agora?

Inferno ,em uma data qualquer

Àqueles que, por ventura, venham a ler estas palavras,

Escrevo-vos do abismo que agora habito, um lugar que, por muito tempo, considerei apenas uma construção da imaginação humana, uma fábula destinada a amedrontar os incautos e a guiar os passos dos que se desviam do caminho da virtude. Contudo, aqui estou, imerso em uma realidade que transcende qualquer temor que eu pudesse nutrir em vida.

O calor que me envolve é insuportável, uma chama que não consome, mas que eternamente tortura. As sombras dançam ao meu redor, figuras indistintas que sussurram os ecos de minhas ações passadas, lembranças que se entrelaçam em um lamento contínuo. Cada ato de egoísmo, cada palavra proferida com desdém, cada momento em que ignorei a dor alheia, agora se materializa em formas grotescas, como se o próprio inferno fosse um espelho que reflete a essência de minha alma.

Recordo-me de minha vida, das escolhas que fiz e das oportunidades que deixei escapar. A ambição desmedida, o desejo de poder e reconhecimento, tudo isso me conduziu a um caminho de solidão e desespero. Em minha busca incessante por conquistas materiais, negligenciei os laços que realmente importavam, os afetos que poderiam ter me salvado. Agora, sou um espectador de minha própria ruína, condenado a vagar por este reino de trevas, onde o tempo não tem significado e a esperança é uma palavra esquecida.

As almas que aqui se encontram são como eu, perdidas em suas próprias tormentas. Algumas gritam em desespero, outras se entregam ao silêncio, mas todas compartilham o mesmo fardo: a consciência de que suas vidas foram marcadas por escolhas erradas. O arrependimento é um companheiro constante, uma sombra que não se dissipa, e a dor de saber que não há retorno é uma ferida que nunca cicatriza.

Em meio a este cenário desolador, sou forçado a confrontar a verdade de minha existência. A vaidade que me guiou em vida agora se transforma em um peso insuportável, e a arrogância que me impediu de ver além de meu próprio umbigo se revela como a raiz de meu sofrimento. Aqui, não há espaço para ilusões; cada um de nós é confrontado com a realidade nua e crua de suas ações.

Se pudesse, dirigiria-me a vocês, que ainda habitam a superfície deste mundo, e imploraria que não cometessem os mesmos erros que eu. Valorizem os momentos de amor e compaixão, pois são esses os verdadeiros tesouros que a vida oferece. Não se deixem seduzir pelas promessas vãs do poder e da riqueza, pois, ao final, são apenas correntes que aprisionam a alma.

A vida é efêmera, e o que realmente importa são as conexões que estabelecemos, as vidas que tocamos e as mudanças que promovemos. Que minhas palavras sirvam como um aviso, um eco de um passado que não pode ser alterado, mas que pode, ao menos, iluminar o caminho de quem ainda tem a chance de escolher.

Despeço-me, com a esperança de que um dia, ao menos uma alma, possa encontrar redenção através de minha experiência. Que a luz da sabedoria ilumine seus passos, e que a compaixão seja sempre sua guia.

Com pesar e arrependimento,

Um Condenado do Inferno.

Renato Nascente
Enviado por Renato Nascente em 23/11/2024
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