Carta anônima
CARTA ANÔNIMA
Por Noedson Valois
Amiga Boca
Aqui não devo me identificar para não escrever palavra feia. Pois, embora seja monossilábico o meu nome, as pessoas consideram um palavrão.
Somos, amiga, sem dúvida, os principais orifícios do corpo. Tu, responsável pela ingestão do alimento, e eu pelo excremento.
Como vês, amiguinha, apesar da nossa parceria em prol do do corpo, recebemos um tratamento totalmente diferente. Vivo sem direito a um sorriso, já que até desdentado sou..
Enquanto falas, cantas, sorris...eu, querida Boca, limito-me a sopros e pequenos gemidos.
Enquanto cuidas da entrada, eu, responsável pela saída, nunca posso desejar boas vindas.
Não imaginas, minha querida, como às vezes tenho vontade de tomar um banho de sol!
Que sina é essa, amiga? Não sei que gosto tem batom!
Puxa, queridinha, cada um com o seu papel.Nunca tive direito a guardanapo. Mas, me diz uma coisa, papel higiênico te machuca?
Só uma coisa me orgulha: sou responsável pela obra!
Não sei beijar, amiga, mas até que aceitaria um beijo teu.
Sabes, amiga? Às vezes te imagino em meu lugar. Reclamarias um bocado, não era mesmo? Aprendi a sofrer calado, minha querida!
Encerro as minhas mal traçadas linhas, parceira, pedindo que nunca me menosprezes, pois, sou eu quem "paga o pato" pelos teus exageros, tendo que botar tudo para fora.
Enquanto te exibes, querida, permaneço escondido em meu canto, mas sempre ao teu dispor.
Sem mais do teu amigo...