Culpa

Eu não te culpo.

Não te culpo por nada que aconteceu. Por nada que aconteceu comigo. Você sempre foi um anjo, não é? E como eu poderia me comparar a um, tem asas tão pequenas, e ideias tão mirabolantes, que se fossem analisadas, seriam meu atestado como maluco? Mas não, eu não te culpo. Não te culpo por ter me deixado sozinho, ou melhor, por ter feito eu me sentir sozinho. Já perdi a conta de quantas noites passei contanto estrelas no teto do quarto da minha mãe porque você não estava aqui para segurar minha mão até eu dormir - mas nem minha mãe estava, como você bem sabe.

Não é sua culpa eu estar me sentindo sozinho.

Sozinho.

Palavra irônica para como eu estou me sentindo agora. Ah se eu estivesse sozinho, eu poderia estar incrivelmente bem com essa possibilidade. Penso até em como eu voaria como um pássaro para longe se eu estivesse apenas sozinho. Mas não. Essa palavra, “sozinho”, não descreve como eu me sinto depois que você se foi. Não foi sua culpa, mas eu me sinto ilhado, mas com muito medo de nadar, me sinto faminto por voz e sedento por contato humano. Como se algum dia eu já tivesse tido isso, mas não é como se você soubesse algo sobre, nem como se eu soubesse. Afinal, nós nunca fomos verdadeiros sobre nossos sentimentos, não é?! Mas calma, ainda não é sua culpa. Ainda não é sua culpa eu ter me dilacerado por completo atrás de uma simples gota de um amor que nunca nem me preencheu. Não, isso é culpa minha. Minha culpa foi ter feito você sentir que o que você oferecia era pouco.

Mas agora eu estou aqui, correndo atrás da única verdade que eu conheço. Queria que ela fosse um pensamento, uma palavra, algo que se esvaísse em uma solitude que apenas a memória desafiada poderia lembrar. Mas tudo o que eu procuro, é aquela sensação de êxtase que teu pouco amor me proporcionava em horas curtas de prazer e de afeto. Mas não é sua culpa! E também não é culpa da droga mais pesada que consegui achar na noite passada. Tentei superar o êxtase que seu amor me deixava, e a dor da sua partida, mas não fui forte o suficiente, mas acredite, eu pedi tanto, mas tanto, com todas as forças que ainda me restam, para que, no final, conseguisse.

Mas não foi culpa sua…

E então? Não vai me falar que a culpa foi sua, no final? Não vai me dar um abraço e se desculpar por ter me deixado vivendo nessa ilha deserta, cercado por uma água escura que me desce dos olhos? Me deixado sem teu pouco amor embriagante? Não vai dizer? Por favor… Eu estou fazendo de tudo por você, tudo para ter você, fazendo de tudo por essa sensação. Fazendo de tudo… por amor.

Mas calma, não é sua culpa.

Eu assumo daqui.

Lucas P Melo
Enviado por Lucas P Melo em 06/11/2024
Código do texto: T8190779
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