Egoismo
Lucas,
Obrigado por me escrever depois de tanto tempo. Apesar das mágoas e do rancor, sinto falta da tua doce escrita, e de como ela me trazia paz.
Sabe, eu me pego rindo do seu engraçado pensamento. Não sabe quem pilota seu trem? Lembro-me da época em que nosso medo era não saber qual a direção que ele ia.
A muito sai dele, e a muito te deixei. É estranho como o sol de março bate diferente em minha cama, agora que você não deita mais nela. Acho que deixou de ser minha cama, já que não tenho mais você para compartilhar. Faço a mesma pergunta “onde é meu lar?”
Onde é meu lar, Lucas? Perto de você? Perto do mar, com um bom livro e bicicletas alugadas? Pois lembro-me bem, não eram nossas aquelas bicicletas que nos levavam mundo afora, como também não são minhas essas memórias que você tanto tenta fazer eu acreditar.
Me conte, como vai sua família? Eles ainda te deixam desconfortáveis com perguntas indiscretas? Sua mãe continua tão bonita quanto no dia em que a conheci?
Gostaria de perguntar sobre seu amor e seu coração, igual você fez, mas tenho medo de minha certeza de ter sido esquecido ser confirmada. Por favor, não me conte, e por favor, não me esqueça.
Admito ter esquecido dos seus pedaços, e da nossa história. Admito ter saído correndo em uma bicicleta alugada sem você. Admito que é egoísmo meu pedir para você não me esquecer. Mas como poderia eu, não querer estar tão vivo junto a você?
Com toda a minha dor, e meu fraco resquício de amor,
Lucas Melo.