Da Mulher Lagarta à Mãe Borboleta: uma carta para meu filho

Meu filho,

Muitas vezes me pego reclamando quanto as dificuldades no maternar. Me deparo com muitos medos e inseguranças relacionados ao ser mãe. Nem todos os dias são de alegrias e purpurinas. Tem exaustão e momentos de choro.

Já tinham me falado e eu já tinha lido muito sobre isso, sobre essa montanha russa de sentimentos que é a maternidade. Mas só agora que eu realmente consigo entender. Sinto tudo isso que comecei falando no texto, mas em nenhum momento me passou pela cabeça que se eu pudesse voltar no tempo eu teria feito diferente. Não teria mudado nada, não teria tirado nem colocado nada diferente, não teria deixado de viver nenhuma das lágrimas ou exaustão que eu senti/sinto. Você é simplesmente maravilhoso, meu filho, e por mais paradoxal que isso possa parecer, eu amo todos esses sentimentos, porque seu sorriso, suas conquistas diárias, seu olhar, seu desenvolvimento são simplesmente apaixonantes e em milésimos de segundo transformam qualquer lágrima de tristeza em alegria.

A maternidade me coloca continuamente frente a frente com as minhas fortalezas e fraquezas e isso é assustadoramente poderoso. A transformação, o encontro com a minha essência dói, sim, dói muito. Mas é lindo. É poderoso. Amadurece, dá força, faz de mim uma mulher muito melhor. Então apesar de todas as dificuldades, vale a pena, como vale!

Uma vez li uma historinha que me marcou e escrevendo agora sobre isso, me lembrei dela novamente, é sobre a lição da Borboleta (desconheço o autor):

“Um homem, certo dia, viu surgir uma pequena abertura num casulo. Sentou-se perto do local onde o casulo se apoiava e ficou a observar o que iria acontecer, como é que a lagarta conseguiria sair por um orifício tão miúdo. Mas logo lhe pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso, como se tivesse feito todo o esforço possível e agora não conseguisse mais prosseguir. Ele resolveu então ajudá-la: pegou uma tesoura e rompeu o restante do casulo. A borboleta pôde sair com toda a facilidade… mas seu corpo estava murcho; além disso, era pequena e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observá-la porque esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se estendessem para serem capazes de suportar o corpo que iria se firmar a tempo. Nada aconteceu! Na verdade a borboleta passou o restante de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Nunca foi capaz de voar.

O que o homem em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura eram o modo pelo qual Deus fazia com que o fluido do corpo daquele pequenino inseto circulasse até suas asas para que ela ficasse pronta para voar assim que se livrasse daquele invólucro.

Algumas vezes o esforço é justamente aquilo de que precisamos em nossa vida. Se Deus nos permitisse passar através da existência sem quaisquer obstáculos, Ele nos condenaria a uma vida atrofiada. Não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nunca poderíamos alçar vôo.”

Não que eu seja adepta do “No pain, no gain”, pois acho sim que algumas mudanças podem e merecem vir sem dor nem esforço. Mas, no caso da maternidade para mim, e acredito que para a maioria das mães, ela tem sim esse processo de precisar passar por um casulo apertado para os fluidos circularem até nossas asas para que possamos nos livrar dos invólucros da mulher lagarta e transformá-la em mãe borboleta. Inclusive esse texto também me faz pensar, relembrar e conectar com alguns momentos do ato do parto vaginal em si, mas, essa reflexão é para outro momento.

Gostaria de ser perfeita para você, sem falhas e me dói todas as vezes que sinto que não consegui fazer algo com a maestria que eu desejava. Me perdoe por ser humana e imperfeita. Me perdoe por todas as vezes que eu falhar ao longo dessa nossa trajetória de vida e, como já escrevi antes em alguma outra cartinha para você, me ajude, com doçura e carinho, a ser sempre a melhor mãe para você, respeitando as suas individualidades sem ser invasiva e sem ser ausente.

Para mim, a maternidade está sendo incrível, justamente por ser imperfeita, apesar de doloroso demais aceitar esta imperfeição. É fascinante como, te observando, te conhecendo, vou também me conhecendo a fundo. É um processo de me perder e me achar um pouquinho mais a cada dia. É uma transformação maravilhosa; é uma doação de pedaços do meu coração e de presente ganho o sorriso mais gostoso, um autoconhecimento incrível e o descobrimento de uma nova força, a minha intuição!

Que eu possa ser para você sempre lar, chão, mão estendida, abraço que acalenta, analgésico, carga extra de energia, mão que segura quando o carro breca repentinamente. Que eu possa ser sempre porto seguro, mas um porto que, apesar de desejar que o barquinho fique por por ali, também aceite, solte a cordinha e entregue ao mar quando sentir que é hora de partir, mas que num abraço longo de “despedida” eu seja capaz de te dar sempre a segurança de que porto nunca sai do lugar e que você poderá sempre que precisar voltar.

Te amo.

Renata Cunha
Enviado por Renata Cunha em 24/10/2024
Código do texto: T8181256
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