Como Catherine

Saio do elevador, atravesso o hall, entro no corredor e sigo. Alguns passos adiante, olho à direita, estico a cabeça, tento ver se você já está ali, na sua mesa: te ver lá, já me faz chegar mais alegre.

Fico na expectativa de que venha sentar-se perto de mim, para falarmos sobre qualquer coisa.

"Idem velle, idem nolle", já dizia São Tomás de Aquino.

Como é bom ter alguém com quem conversar assuntos aleatórios, mas nada triviais, que parecem interessar apenas a nós dois, e a mais ninguém .

Como é bom captar desses encontros uma frase que ficará dias e dias sendo digerida pela minha mente.

(A última frase foi "ninguém quer saber", quando você me falava do desinteresse do público geral por assuntos que fogem da banalidade)

Tantos anos vividos e, pela primeira vez, sinto-me compreendida, alma aquecida... poucos entenderiam o grande valor dessa sensação.

Te admiro mais do que eu deveria, lhe devoto um encantamento que se perde na medida.

O final de semana é longo, e eu anseio pelo bálsamo que é a sua presença.

Quem dera não tivéssemos nos comprometido diante de Deus e dos homens.

(E, desse compromisso, vieram os filhos, aos quais não temos coragem de magoar)

Bom estar perto, difícil manter a linha... mas é assim que tem que ser.

"É assim que tem que ser".

Repito pra mim, várias vezes, quem sabe em algum momento eu me convença.

E assim eu sigo, sentindo-me como Catherine Earnshaw: casada com Linton e desnorteada por Heathcliff.

ps.: ontem eu quis lhe falar como seu cabelo tava bonito, mas fiquei com vergonha...

Catherine Earnshaw
Enviado por Catherine Earnshaw em 22/10/2024
Reeditado em 22/10/2024
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