Não é Não
Perdoa-me, mulher, se o toque que dei
Foi como vento errante, sem rumo, sem lei.
Tua pele, jardim secreto que ousei desbravar,
Teus braços, rios que não pude navegar.
Tua nuca, céu que sonhei alcançar,
E teus cabelos, ondas de um mar sem lugar.
Beijei tua orelha como quem beija a lua,
Mas teus olhos me diziam: "Não sou tua."
Teu "não" era muralha, era fronteira sagrada,
E eu, tolo, me perdi na jornada errada.
Tu és o céu que jamais toquei,
És chama distante, que nunca alcancei.
Tuas mãos, tão leves, como pluma ao vento,
Eu as toquei, sem notar o tormento.
Cortejei-te como a primavera corteja o inverno,
Sem perceber que o frio era eterno.
Teu "não é não" ecoou como trovão,
E eu, no silêncio, senti o peso da razão.
Teus braços, castelos que quis conquistar,
Mas tu, soberana, soubeste me afastar.
Casada, fiel, com laços tão profundos,
E eu, na minha sede, perdi-me em teus mundos.
Cada toque meu foi um erro incalculável,
Teu corpo, um altar, onde fui indesejável.
Acariciei teu rosto, como o sol acaricia o mar,
Mas teu "não" me fez naufragar.
Perdoa-me por ter ignorado teu escudo,
Por ter cruzado um limite tão mudo.
Agora, nas ruínas do meu desejo, me calo,
Pois o "não" foi dito, e eu caí nesse abismo raso.
Ainda assim, como o deserto deseja a chuva,
Como a noite anseia pela lua,
Continuarei a desejar-te, em silêncio profundo,
Pois teu "não" é firme, mas meu desejo é fecundo.
E enquanto teu "não" for muralha sagrada,
Sigo à distância, com minha alma calada.
Desculpa-me, por não ter visto antes o chão,
Mas mesmo em teu "não", não deixo de sonhar a ilusão.