EU ME LEMBRO

Eu posso até não cobrar, não ficar falando mas, eu me lembro de tudo, e a lembrança ainda me faz chorar.

Me lembro de todas as noites que precisei me retirar do quarto com as crianças para dar sossego para o trabalhador poder ver TV em paz.

Me lembro de cada fim de semana que passei sozinha porque o churrasco era só para homens

Me lembro de cada fim de semana em que fui sozinha com as crianças para o clube, pegando dois ônibus, com vale transporte contado e mochilas pesadas, cheias de comida e refrigerante, porque não tínhamos dinheiro e o futebol era mais importante.

Me lembro das vezes em que liguei para saber noticias e me disseram que não estava e nem havia passado por lá, onde havia dito que estaria.

Me lembro do dia em que disse a meu padrasto que eu preferia que ele conseguisse a tão abençoada vaga de trabalho para o provedor pois ele iria cuidar de mim e das crianças.

Me lembro de não merecer comemorar o dia das mães e ainda ter que ouvir um _ Você não é a minha mãe!

Me lembro dos natais que passei sozinha, porque eu não era bem vinda na casa da família.

Me lembro do ultimo dia em que senti medo de estar sozinha já que foi o primeiro dia em que me senti em paz com ela.

Me lembro da única viagem que fizemos, que não foi para fazer média para amigos ou parentes.

Me lembro das noites que passei em claro acudindo filho doente para não amolar quem dormia.

Me lembro do médico me acusando de irresponsável porque demorei a ter atitude , eu não sabia dirigir, e não tinha ônibus.

Me lembro das semanas que passei sozinha porque as viagem não eram pra mim.

Me lembro dos favores tão facilmente estendidos as vizinha mas que não chegavam até a mim.

Me lembro das festas de fim de ano onde não cabiam a esposa nem os filhos. Mas, outras esposas estavam presentes.

Me lembro de cada presente que ganhei que na verdade serviram pra fazer graça para o bico da (colega)da empresa.

Me lembro do dia que tive que voltar pra cassa de ônibus porque meu capacete fora dado de presente para uma ( colega) de trabalho.

Me lembro de não ser digna de dirigir o tão sonhado carro novo

Me lembro que todos podiam pegar o tal carro novo emprestado menos eu

Me lembro que o único (bem material) que eu possuí, um carro velho, podia ser emprestado para todos de uma família a qual eu não pertencia.

Me lembro de todas as vezes em que me arrumei para um passeio e tive que me desarrumar porque minha vontade não tinha importância .

Me lembro de todos e de cada momento íntimo que nunca...nunca...nunca pertenceram a dois.

Me lembro de todo presente por datas especiais em que não ganhei nem lembrança, nem parabéns

Me lembro de todos os dias das mulheres cuja o parabéns foi longe mas nunca chegou até a mim.

Me lembro de todas as flores, caixas de chocolates, roupas, sapatos, bijuterias e presentes que nunca me pertenceram.

Me lembro de cada data importante que nunca teve nenhuma lembrança muito menos importância.

Me lembro de minha juventude imatura, iludida e cheia de esperança de momentos que nunca vivi.

Me lembro de cada sonho que nunca se realizou.

Me lembro de todas as vezes quem minha presença abalava o sossego e eu era impelida a me afastar.

E que o meu excesso de carinhos era um incômodo fora de hora e de lugar

Me lembro de cada palavra de ódio a denegrir não só a mim mas também a meus filhos.

Me lembro também de todas as vezes que meus carinhos eram solicitados em momentos em que eu não tinha a menor vontade.

Me lembro que, toda ( barrigada perdida) começa com uma trepada perdida e mal feita.

Me lembro do primeiro dia, do resto de minha vida, em que a rua não mais estimulou as mãos dadas.

Me lembro dos momentos em que fui posta de lado para dar espaço a conversas em que eu não cabia.

Me lembro do dia em que todas estas coisas perderam a importância pra mim.

Me lembro do dia em que as más palavras, as grosserias, as cobranças, os insultos perderam completamente a força e a presença deixou de fazer diferença.

Me lembro de coisas que fiz para ajudar a crescer e que acabaram se voltando contra mim.

Me lembro do dia em que abracei a solidão como minha melhor amiga e o silêncio como companheiro

Me lembro de cantar minha dor, meu sofrimento, minha angustia, minhas vontades, minhas esperanças, mas... música que não faz sucesso não tem voz nem valor.

Ah!!!! E como eu poderia me esquecer, das curtidas nas postagens de todas as garotas da família, incluindo das cunhadas mas.... não nas minhas. Porque pra mim não tem curtida, só crítica.

Aléssya
Enviado por Aléssya em 20/10/2024
Reeditado em 25/10/2024
Código do texto: T8177961
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