UMA CARTA DE DESPEDIDA
Estou escrevendo nosso fim, você bem sabe que não sou capaz de falar então me escondo na sombra das palavras e faço mais uma carta, se lembra de quantas cartas de amor eu escrevi pra você? mas essa é a última, juro.
A verdade é que nos perdemos, em alguma noite nos despedimos antes de voltar para casa e nunca mais nos reencontramos.
Estamos boiando à deriva, sem destino ou compromisso com com nosso amor, inertes e cansados de remar.
Somos um amontoado de anos nos quais nos agarramos aos números, estamos nos segurando a eles com toda nossa força, sem perceber que a altura mínima e podemos sem medo algum nos jogar no vão da separação. Os danos são mínimos e pouco perigosos.
Acredito que se não fosse alguns motivos tolos, eu já teria ido antes. A coragem me aconselha há algum tempo sem você saber.
Me apeguei nas memórias desgastadas que me sustentaram a permanecer por mais alguns meses, agora não dá mais. Continuar é impossível. Lamento confessar que não restou saudade mas sim uma deliciosa sensação de liberdade que jamais senti antes, me sinto tão dona de mim e nessa onda de amor próprio escolhi seguir sem você.
Nosso amor foi muito, foi tudo, durou anos e nos encheu de alegria, mas agora precisamos encarar o fato de que ele adoeceu e logo suspira em lenta agonia.
Nós nos dissipamos, meu corpo não reconhece teus carinhos e suas mãos são estranhas ao toque. Teu corpo já não me seduz e busco o refúgio do prazer na minha própria companhia. Quero estar só e não me resta remorso, apenas uma eterna gratidão por tudo que fomos juntos.