22 de maio de 2024

As tardes de domingo já não são as mesmas. Há muito tempo que não vejo novela e nem aqueles realities que costumávamos. Bradei para salvar a sua última imagem, cortei laços com familiares. Na verdade, nem sei como começar isso aqui. Muita gente pensou que eu iria trocar de mal com Deus, talvez que eu nem acreditasse nele. Poucos sabem o nosso íntimo espiritual. Eu não segui as normas católicas, não sigo, você bem sabe.

Insensato esse destino que tira da luta alguém que venceu a batalha, uma praga sorrateira te acertou às escuras. Todos a respeitavam. Uma comunidade. Agora só restou nós quatro. Exerci o meu posto os segurando até onde deu, permaneço desequilibrado. Lampejos me invadem e eu lembro de tudo. Fiz uma viagem de moto e só consegui lembrar do seu zelo.

Queria sentir essa liberdade de insetos rodoviários batendo em mim. Deu tudo certo no final, cheguei inteiro, estou escrevendo para mim. Sim, para mim! Não irá ler, mas sei que está ouvindo tudo isso agora. A vantagem de seguir a minha espiritualidade é saber que isso acontece e, não conseguir contar as inúmeras vezes da sua visita, ou mensurar quantas vezes viram o seu rosto no meu.

Nunca imaginei que fosse sentir tão cedo essa falta, ainda mais que erámos colados quando eu era mais novo. Dada a vida pessoal, esperava isso do meu Pai. Sim, continuo fazendo minhas gracinhas, não consigo parar.

Queria poder parar tanta coisa... Sinto que não te dei orgulho, sinto que tenho débitos contigo. Talvez um pouco de culpa por ter saído de casa bem cedo, não sentia que eu cabia mais naquele tempo e estranhamente, não sinto que caibo lá agora também. As cabeças que têm lá são muito complicadas, o mesmo sangue, mesmo gênio e mesma incompreensão. O genitor é um enrosco mais sério, a cria tá sentida, vazia, sem propósito. Eu tive que extrair dele a dor para que amenizasse e estamos em constante progresso. A guria tá muito bem assistida, falante demais, comendo direito e bem amável. É duro, mas inexoravelmente a vida continua, voraz, casmurro, etéreo.

Minha Tia diz que a saudade tem que ser sentida e tá tudo bem. Eu concordo em partes. Temos que saber o limite, sei que é difícil, Seu Luiz dizia no seu cancioneiro, "Se a gente vive a sonhar com alguém que se deseja rever, saudade, então, assim é ruim.", lembrarei de ti e todos que eu amava e se foram para o outro plano.

Ficarei com a melhor parte, as lembranças. Eu sinto dor e paz, sei que nos persegue com seu novo olhar celestial e sussurra em nossos ouvidos para desacelerar nas curvas. Não deixarei que o espelho se quebre. O seu lugar no sofá estará sempre preservado, mas será usado sempre, é a melhor vista para a rua. Seguiremos cheio de esperança esperando o próximo contato, esperando que demore bastante este reencontro de lendas. A ética e todo o aprendizado para viver foi a nossa melhor herança!

Wez
Enviado por Wez em 27/09/2024
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