Você me ensinou a despedir

Ab initio, que bela frase para dar sentido a “desde o início”, em que eu, não metaforando como Corvo, mas antes mesmo dele, pensava que as despedidas não eram o meu forte. E realmente não eram, a despedida, que inicia com um tchau, esgota-se com o adeus e isso a Colecionadora fazia o trabalho destas despedidas para arcar com seus troféus empoeirados.

E novamente, não me importa se você leia ou não, pois já não me importo tem muito tempo. Então tudo foi um nunca, hã? Essa carta, esse texto ou seja lá o que ele for caracterizado, é o antagonista de uma carta de despedida feita para outras pessoas em outros momentos.

Não sinto em meu corpo teus olhos me pontilhando, tampouco sou dono de tua teimosia, ali não é meu lar, tampouco tenho pensamentos. A única coisa que me resta é um sorriso na mão que eu me arrependo, pois tu diste que seria felicidade e não o fez, dessa vez serei egoísta de não arcar como o vilão.

Saudades? Não. Nem vazia e nem egoísmo, pois por trás dessa tatuagem, esta “cicatriz” que eu penso em passar-lhe a faca um dia, me enoja. Sorte, não, nem destino. Não se mata algo duas vezes, pois eu já estava morto, mesmo tendo nome bíblico, não foi escolhido Lázaro para ser revivido.

Não tem anseio, somente receio, nem de coração, nem de momento. Pensei que seria mais fácil por ser a pessoa que me conciliou com Jesus, mas não Vê-lo em você no íntimo, me fez querer ir-me e eu fui.

Do que pude extrair da despedida do próximo que não doeria igual perder-se no adeus, eu não me machuquei, nem doeu, pois eu arquitetei não por dias, mas por anos, enquanto eu pensava que as mãos sob as orelhas eram afago, era para silenciar as vozes daqueles que viam teu veneno escorrer.

Hoje limpei a casa, arrumei vasilhas, lavei roupa, fiz comida, tomei banho, lavei a cabeça, fiz terapia, louvei horas com a voz em mais alto tom e em nenhum momento por mais que foram todos esses anos, não me lembrei de você. O exílio que me colocou tem me ensinado a esquecer de tua figura, tuas bordas e tuas cores, que eram somente para ti, amargo? Somente o desgosto, não quero teu perdão, não quero sua oração, eu quero esquecimento.

Que esqueça dias, esqueça momentos, esqueça até o meu nome, da tua gaiola dourada feita do puro ouro de Ofir, quase me tiraram minha santidade. Quando percebi? Quando confiei minha raiva àquele que confio e lhe disse a seguinte frase: “Precisamos conversar pois eu perderei minha salvação se eu não sair daqui”.

Já ouvi de tudo, que me perdi, que desviei, que esqueci Deus, que sou ingrato, que sou mentiroso. Essa é uma despedida em carta aberta, pois nem desprezo suficiente eu posso suportar de dizer-lhe em face. Com encarnação ou não, com ou sem inferno, se me perdi? Não me procure, sou um pecador consciente e trocaria os céus se lhe visse lá. Que Deus perdoe seus pecados para que fique no colo do Pai e no seio de Abraão, pois se te encontrar no submundo, saberei que o Inferno de Dante, além dos meus poemas favoritos, eram verdadeiros.

Antes as despedidas não eram meu forte, o coração doía, apertava e eu sangrava a alma em vermelho granada, mas agora, você me ensinou a despedir, o teu maior aprendizado. Eu sou o Corvo, mas não esqueça o Cerúleo, aquele que é encontrado no véu da noite, quando tua luz é sufocada pelo amargor da culpa azulada.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 16/09/2024
Código do texto: T8153026
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