Carta direcionada para o céu
Era pra ser o NOSSO aniversário, mas você precisou ir embora mais cedo.
Não deixou um bilhete, nem um recado e nem um áudio de “Parabéns pra nós!”
Te vi 5 dias antes da sua partida, e não me conformo que eu te abracei pouco, conversei pouco e te abençoei pouco. Eu podia ter dito mais, feito mais, te tocado mais.
Quando (há 5 meses) você partiu, eu achei que passado um tempo eu iria me acostumar, ia doer menos, e ia lembrar menos.
Mas parece que você tá morando em outro país e que não tem telefone pra ligar. A sensação é que um dia como você sempre fazia, vai chegar pra almoçar (do nada como sempre fizeram os primos - minha casa sempre teve comida pra mais esperando visitas).
Você me deve um Salmão ao molho de maracujá (e eu nem gosto de salmão). Você me deve o concurso que iriamos passar juntos. Você me deve olhar a impressora que prometeu. Você me deve ler os livros que combinávamos. Você não tinha direito de ir embora com tantas dividas comigo.
Você nem estava usando nosso cordão vermelho!
Eu escolhi as músicas da sua despedida. Mas não consegui ficar para ouví-las. Me perdoe por isso.
Eu estou despedaçada desde o dia que você se foi. E me questionei certa vez por qual motivo: perdemos outras pessoas de outras gerações (vovó, vovô por exemplo), mas você foi o primeiro dos primos. O mais carinhoso, o mais amado, o mais querido, o mais prestativo, o que mais brigava comigo.
Sonhei com você, estava lindo, perfeito, com uma camisa social (sabia que eu amo camisa social), feliz e arrumando um computador. Me respondia por pensamento e eu te perguntei o que fazia ali se já tinha morrido.
Você disse que trabalhava no céu arrumando computadores.
Fica bem aí de cima, que eu vou dar meu jeito de ficar aqui em baixo.
Feliz aniversário pra nós.