Reflexo

A face da ruína é bela

e seus olhos nunca se fecham para mim.

Estão sempre lá,

Confrontando minhas divisas,

Avistando muito além do meu precário tateado,

Deixo que atravesse minha timidez, meu constrangimento, minha falha em existir no mundo,

Passo a fitá-la de volta,

Estou nua, vulnerável e em silêncio, resignada com o destino,

Sua expressão predatória me ameaça, se aproxima lentamente e desbota no ar, se desfaz…

A mais obscura fisionomia,

jamais ousou se olhar com devoção

E quão curioso é reparar como ela

aparenta carregar uma tristeza imperecível e inconfessa

paradoxalmente atrelada à uma velha fantasia de felicidade plena,

cuja impossibilidade decai pouco a pouco num jogo de ilusões imperceptível,

As memórias que se movimentam como ondas sobre mim

São capazes de me afogar fisicamente

Me tiram o ar

Me tomam a liberdade de deslocamento

me molham e me agitam

Depois somem…

Desaparecem na calmaria de uma rasa superfície alagada…

um espelho,

onde te vejo.

Solivagant
Enviado por Solivagant em 10/09/2024
Código do texto: T8148328
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.