Reflexo
A face da ruína é bela
e seus olhos nunca se fecham para mim.
Estão sempre lá,
Confrontando minhas divisas,
Avistando muito além do meu precário tateado,
Deixo que atravesse minha timidez, meu constrangimento, minha falha em existir no mundo,
Passo a fitá-la de volta,
Estou nua, vulnerável e em silêncio, resignada com o destino,
Sua expressão predatória me ameaça, se aproxima lentamente e desbota no ar, se desfaz…
A mais obscura fisionomia,
jamais ousou se olhar com devoção
E quão curioso é reparar como ela
aparenta carregar uma tristeza imperecível e inconfessa
paradoxalmente atrelada à uma velha fantasia de felicidade plena,
cuja impossibilidade decai pouco a pouco num jogo de ilusões imperceptível,
As memórias que se movimentam como ondas sobre mim
São capazes de me afogar fisicamente
Me tiram o ar
Me tomam a liberdade de deslocamento
me molham e me agitam
Depois somem…
Desaparecem na calmaria de uma rasa superfície alagada…
um espelho,
onde te vejo.