Cartas de Saint-Michel - Pequenos bilhetes de amor V
Querido Joseph
Mais um bilhete que escrevi logo após sua partida num 31 de agosto de 1889. Coloco aqui caso - mesmo que eu já tenha partido - teus olhos voltarem e abrirem a nossa gaveta do parador... Então você saberá o que senti naquele momento que tanto feriu minha alma - o momento das tuas escolhas por outra pessoa em tua vida.
"Faço uma prece silenciosa e peço ao universo te guardar e cuidar e que nunca te falte o prazer de viver os teus sonhos, nunca te falte a felicidade de viver as tuas escolhas. Que o que você escolheu para viver te faça feliz. E se eu 'ainda' faço parte de tuas escolhas, se estou no "horizonte" delas, no teu "horizonte" que eu possa te fazer feliz como você o é agora com as escolhas que fez. É dolorido dizer isso, porque tem de amar muito para poder pensar, sentir e dizer tudo isso. É preciso amar sem condições, sem impor nada e isso não é algo fácil. Lida-se com o ciúme da pessoa que está ao lado de quem amamos, lida-se com os braços amados que abraçam outro corpo, lida-se com as escolhas que não nos colocam no presente na vida de quem amamos, mas só no "horizonte", no "Amanhã". É tão difícil amar e não poder chegar mais perto, não poder tocar. Como é difícil. Como dói isso. Estar perto da felicidade, olhar para ela pela claraboia do tempo, pela janela do tempo profundo e não alcança-la com as mãos, apenas com o coração. E eu imagino que deve doer muito em ti também. Eu sei que dói muito em ti também. Mas são escolhas tuas. O teu destino, escolhido por ti, escolhe o meu também. O destino escolhido por mim, o meu destino é você e não é mais ninguém... Ainda te espero... ".
De Marie.
Escrito na praia em frente a Abadia de Saint-Michel, olhando a água do mar batendo nas rochas.
Em 1889.