18 de maio de 1999, carta à Tribuna da Imprensa sobre o Plano Real
Sob o título "Velhos tempos" assim saiu no extinto jornal carioca a supracitada carta de minha autoria:
"Após o lançamento do Plano Real pudemos escutar muitas vezes um chavão assim: "Agora o pobre pode comer carne e frango ". Sempre tomei isso como demagogia, e explico porque. Quando eu era criança, nas décadas de 50 e 60, meus pais eram muito pobres. Mamãe era uma simples dona de casa e papai jamais adquiriu casa própria, carro ou telefone; que eu saiba nunca possuiu conta bancária, nunca assinou um cheque. Pois com todo esse despojamento nós sempre tivemos carne e frango para comer, aliás comprava-se a galinha viva. No Natal tínhamos a mesa farta com todas aquelas guloseimas: ameixas, tâmaras, figos, frutas cristalizadas, nozes, castanhas etc. Mamãe fazia rabanadas e bolinhos de bacalhau, que eram deliciosos e duravam dias. E vez por outra tínhamos aquele queijo vendido em embalagens esféricas, metálicas. Hoje esse queijo custa os olhos da cara e, no mercado, eu não passo nem perto. E embora eu seja da classe média, encaro os acepipes de Natal como supérfluos. Posso dizer que, embora em teoria tenha subido socialmente, nunca passei tão bem de boca como nos tempos de infância pobre. Nem creio que os pobres estejam tão bem assim hoje. Se houve alguma melhora em 95 a verdade é que agora, com os salários congelados há quatro anos, quando não diminuídos ou desaparecidos (o desemprego crescente), não dá mais para enganar.
Nota: depois de 25 anos parece que a situação só piorou. Se antes iludiam com carne e frango, agora é a picanha...