Ausências sentidas
Sinto as ausências de todo o amor que não recebi ao longo dessa existência,
Da minha mãe que viveu esse primeiro ciclo de desamor e não soube transmitir sentimentos amorosos a mim, embora tenha me cuidado como pôde fazê-lo,
Do meu irmão mais novo subtraído na maternidade, com quem não pude conviver e construir uma relação de fraternidade,
Do meu pai que sempre foi um canalha, um progenitor apenas, que nunca soube demonstrar amor a ninguém à sua volta
Das pessoas que amei sinceramente, mas não conseguiram ou quiseram ser recíprocas por não me verem como alguém a quem quisessem,
Dos sentimentos que não vivi, que ainda mantenho aprisionados dentro de mim, como um Corvo enjaulado na melancolia de noites solitárias,
Do casamento que não experiênciei nessa vida porque teria que ser um só e para sempre uma parceria de vida, uma conexão de sentimentos, proteção, aprendizados mútuos, diversão, entrega, confiança, esperança e retribuição espontânea,
Dos filhos que nunca tive, porque jamais os abandonaria, jamais lhes viraria as costas, seriam minhas crias e eu seria sua base, o carinho, o ensino e o cuidado ao longo de todos os seus passos na busca por suas identidades e felicidade,
Eu amealhei muitos sucessos no meu percurso, poucos, mas bons amigos, boas memórias, um bom gosto musical, talentos para escrita, desenho, persistência nos estudos e trabalho, emprego seguro, prêmios, viagens dentro e fora do país, aventuras românticas, prazer sexual, não posso dizer que tudo foi em vão,
Mas ainda assim, as ausências me acompanham, a ausência de alguém que tivesse a sensibilidade de me ver para além de mim e desejasse ficar comigo, por mim, alguém a quem eu olhasse e desejasse ficar por sentir que ali era meu verdadeiro lar,
Talvez essa encarnação deva ser assim mesmo, cheia de propósitos realizados, mas vazia de encontros verdadeiros,
Talvez a "minha pessoa", do fio vermelho do destino de outras vidas, já tenha partido ou esteja há milhas de distância em algum país difícil de deixar, em uma missão de aprendizados muito próprios e por isso dessa vez vivamos um desencontro perpétuo até o último suspiro,
Não sei, só sei que foi triste amar pessoas erradas, me dedicar tanto e ninguém tenha me escolhido, delegar meus valores mais profundos a quem não os merecia,
No fundo algo de bom sei que deixarei de mim nessa jornada sem raízes, sem outro coração que bata em uníssono com o meu, sem uma alma que aqueça a minha em dias de inverno,
Afinal, nem todos os finais felizes são iguais aos filmes, séries ou livros de romance, aquelas ficções de imaginários sonhadores que lançam esperanças sem fundamento em um mundo de mais desamores, efemeridades e ausências do que românticas histórias de eternidades.