A carta do dia 12
Em março fará dois anos que não nos vemos, que não nos encontramos, que não nos tocamos. Em março, a brisa de algum deserto tocará minha alma pálida pela ausência de nosso amor. São quase irredutíveis as lembranças primárias de nosso relacionamento. Até certo ponto não me importaria de dizer que ainda a amo, mas passado tanto tempo, tantos dias, tantos meses, não sei se o que sinto não se confunde com meus desejos aborrecentes. Durante esse nosso percurso quase que sombrio, nas chamas da solitariedade, colocamos o nosso passado no presente. Agora mesmo lembro-me de você me abraçando tocando meu corpo e entregando-se com uma inocência aflorada ao meu calor carnal. Não sei bem o que dizer. Às vezes queria poder vê-la para saber o que sentir. Será que o aroma indestrutível de seu beijo continua o mesmo? Ponderei durante madrugadas sobre seu estado de espírito. Quando você me ligou dia desses e disse “heloo, Luan, acorda!” com aquela entonação quase perfeita de menininha sedosa, voltei no tempo. Uma nostalgia tomou conta de minha mente. Ao telefone fui frio com você, curto e grosso. Uma firmeza frívola e decadente que eu não queria tê-la usado. Sinto-me totalmente incoerente quando penso em tudo que disse a você em quanto estivemos juntos. Não foram mentiras, em hipótese alguma. Foram apenas conjecturas, como diria Borges. E de lá para cá, em minhas conjecturas, fiquei extremamente impressionado com a mudança que tomou conta de mim. Quiçá Freud explica. Embora a principal razão notória e plausível de minha mutabilidade seja você. Na verdade, nosso término serviu de ponto de partida para um outro eu. Serviu para descobertas de novos mundos dentro de mim. Apaguei de meus remanescentes a idolatria que eu tinha quanto a sua personalidade. Como eu queria que você entendesse que tudo que passei por e com você não foram meros momentos, e sim um marco no contínuo espaço temporal de nossas juras eternas de amor. Vejo sem sombras de dúvidas, que qualquer namorado que você tenha se relacionado, e que você ainda venha a se relacionar, não dirá em modo algum, todas as palavras que eu disse a você sob uma paixão efevercente. Nenhum outro namorado caminhará com você de maneira igualitária os nossos 318 passos na praia, escutando as nossas próprias vozes cantalorarem a magia de nossos corações. Queria que você sentisse o que sinto neste exato momento, a saudade de nossa felicidade diluída pelos nossos erros compreensíveis. Nenhum outro verão terá a intensidade que nós tivemos pelo nosso amor. Você ajudou a me descobrir. E talvez seja por isso que eu tenha aprendido a perdoar. Perdão aos quais nossos erros sempre careceram. Agora eu queria dizer na sua frente tudo que escrevi para você. Assim eu não só veria sua reação, mas também o movimento de seu rosto que desde o primeiro dia que a vi me fisgaram para a eternidade de nossa vertigem amorosa. Eu não queria ter mudado se fosse para estar hoje ao seu lado sendo feliz como um dia eu fui ao dizer o quanto eu a amava. Parabéns pelo nosso dia, e por todos aqueles que passamos juntos.