Carta ao espelho
Espelho,
Quantas vezes precisei de ti para me ver ao longo do dia? Quantas vezes precisei me enxergar em minha vida? É surpreendente como, nos últimos anos, passei por tantas transformações e tu estiveste sempre ao meu lado. É fascinante ver como atuei em vários papéis, passando por diferentes versões de mim mesmo, cada uma trazendo algo novo. Vivendo e me entregando aos outros, vendo em ti cada nuance minha. É reflexivo como passei tão depressa por essas fases. Foram muitas as mudanças. Quando olho para ti, vejo o meu passado refletido.
Como em uma história comum, atingi o meu auge, acreditando ser perfeito diante das pessoas que passaram pela minha vida. Fui ao fundo do poço quando percebi minha fragilidade. Colecionei rachaduras em ti e em mim. Tentei te reconstruir, mas sei que é tarde demais. Chegaste ao teu limite.
Choro diante de ti. É saudade dos momentos bons, mas também tristeza pela velocidade com que os dias passaram. Preciso me livrar das cicatrizes que carrego. Preciso apagar o que passou e aceitar o novo tempo que chega. Preciso encontrar aquele perdão que nunca alcancei. Para isso, preciso te quebrar e te jogar fora. Tu chegaste ao fim. Deixo-te com a minha despedida.
Adeus,
Eu.