Caderno marrom
Antes eu tinha todas as palavras a minha disposição. Inspirações vinham umas sobre as outras numa onda emocional inebriante. Eu me sentia parte de alguma coisa, importante.
Os anos vieram e se foram. A mente de antes nem parece que um dia esteve neste meu corpo. Eu tinha esperanças de um amanhã melhor, uma vida melhor, mais feliz.
Sim, tentei como muitos ver a beleza no que se tem. Valorizar minhas conquistas. Acreditar e buscar. Só que eu não tenho mais um propósito e vivo por viver. Até minhas boas lembranças me foram proibidas.
Eu só estou aqui por estar. Sem propósito, sentido ou mesmo um objetivo. Agora sei como Bukowiski se sentia e porque escrevia de maneira tão crua. No fim o belo da vida é um momento ao qual me apeguei. Uma ocasião, talvez duas ou mais. A vida resumida a momentos. E momentos vem e vão. Alguns de repetem, poucos são realmente novos e outros bastante dolorosos.
As vezes eu desejo apenas um abraço verdadeiro. Me sentir acolhido. Aos poucos sinto que isso não é mais para mim. Eu só queria isso: não ser forte por alguns momentos.
Antes eu romantizava uma vida dedicada ao trabalho, achava bonito viver para cumprir responsabilidades. Queria ser o Nicolas Cage em Um homem de família: focado, bem sucedido, racional e implacável.
O problema é que aquele personagem que eu admirava vive uma experiência que muda sua vida. E eu ignorei isso: no fim, ele só queria estar com a mulher que amava e seus filhos. Ignorei esse final achando que tal revelação não se aplicaria a mim.
Foi o maior engano que já cometi. Mas agora eu entendo bem aquele personagem e concordo com ele. Mas o que fazer? Como consertar tudo?
Hoje eu me sinto sozinho no escuro - cansado - e sem esperanças.