Naquele segundo domingo de agosto de 1977, você não estava presente.Sua jornada neste plano havia se encerrado no dia 31 de julho de 1977, em um domingo azul, último do mês, e último que esteve em sua pequena casa abarrotada de filhos.

A notícia de sua partida me deixou perplexa,anestesiada por uma dor tão imensa, que nunca tinha imaginado sentir,  aos meus dezessete anos de vida.

Sou a número cinco de seus onze filhos, e

aos dezesseis anos fui em busca de um sonho , em uma cidade maior, trabalhar e concluir o ensino técnico de contabilidade.

Meu pai sendo servidor público estava orgulhoso e muito satisfeito, afinal sua corajosa menina estava buscando dar continuidade aos estudos.

 

Tive a oportunidade de receber dele os parabéns e um abraço bem abraçado( o melhor que já recebi) e a sua benção, quando com os olhos lacrimejando me levou ao ponto de ônibus e me disse..." Deus abençoe seus caminhos, trabalhe com amor e honestidade", deu um beijo em minha fronte e fez o sinal da cruz.

 

Lembro-me de meu Pai sempre gentil, amoroso com os filhos e a esposa.Único provedor de uma família numerosa trabalhava muito e nunca nos faltou o básico pra o sustento da família, e principalmente nunca faltou em nossa Casa, o respeito e acolhimento.

 

Educou seus filhos sem palmadas, e com exemplos e regras de boa convivência entre irmãos.

 

Estando eu trabalhando e estudando, e querendo realizar um antigo desejo de dar um "presente" ao meu pai , que não fosse pago com o dinheiro dele,comprei uma linda camisa azul. A moça da loja fez uma linda embalagem, papel brilhante com estampas de corações de cor azul e rosa. Planejei uma viagem para visita-lo no dia dos pais.

 

Não tive a oportunidade de entregar-lhe o meu precioso presente naquele segundo domingo de agosto.

 

Naquele último domingo de julho/1977 , inesperadamente precisei antecipar a viagem. Encontrei-o com o corpo inerte, frio, vestindo sua camisa branca e seu único terno preto. A mesma veste que usou em seu casamento, e que usava em época de eleições, quando os mesários se vestiam assim, a rigor.

 

Meu Pai se foi naquele dia pra outras jornadas, mas seu amor, seus ensinamentos, eu trago comigo, pois meu Pai está em minha essência, e estará pra sempre.

 

Obrigada, meu pai Humberto Mafra de Araújo!.

Com amor...

De sua filha, Maria das Graças de Araújo.

 

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Imagem Google. 

 

Gracieluz
Enviado por Gracieluz em 11/08/2024
Reeditado em 11/08/2024
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