CARTA A UM AMIGO QUERIDO
Querido amigo
Tu não sabes o quanto me angustia quando tu pareces tão triste assim. Gostaria muito de fazer ou dizer alguma coisa que pudesse aplainar tuas inquietudes, mas eu estaria mentindo se dissesse que eu conseguiria. Se eu estivesse aí, mais próxima de ti, apenas te abraçaria e tentaria te passar um pouco de meu calor humano. Tu és muito desprovido de pele; explico, desprovido daquela capa protetora de si mesmo, de teu contato com as dores da vida.
És muito vulnerável o que, às vezes, me faz sentir que posso machucá-lo sem querer. Às vezes, nem sei mesmo o que falar, e me angustio também se eu nada falar. Sinto-me, nestes momentos, completamente impotente contigo. E vem uma sensação torturante, pois nutro por ti um carinho enorme. Não obstante, estive assim pensando: tens uma fragilidade de criança, própria dos poetas, mas tens também um lado tão forte e protetor que me faz, muitas vezes, buscar apoio te pedindo opiniões, conselhos e até orientações.
Ah, amigo querido, se eu pudesse, recriaria o mundo e o faria bem lindo e bom, só pra não ver teus olhos tão tristes assim. Sentimento maternal é o que muitas vezes tu me inspiras. Não perca a fé nas coisas boas da vida, amigo, o mundo ainda tem muitas pessoas e coisas boas também.
A gente nunca vai saber, em vida, o que acontece depois da morte. E a morte é um fato - é a maior certeza que nós temos. Mas não podemos viver pensando na morte. Se estamos aqui vivos ou vivendo, é porque existe algo maior que nos trouxe aqui - não quero voltar ao meu antigo ceticismo e materialismo, pois não me levaria a nada.
O que gosto em ti, é que pensas em todas as possibilidades espirituais e te questionas sobre tudo - talvez por seres um pisciano? - e eu não quero me fechar novamente para esta possibilidade de pensar a vida sob esse paradigma.
Vi em ti (dentre tantos outros que conheci) uma chance pra me
experimentar enquanto ser ilógico e espiritual. Talvez seja por isso que brinco contigo dizendo que és meu "guia espiritual". Mas também não quero que tu leves isso muito a sério e carregue essa responsabilidade contigo (sei o quanto te preocupas comigo...). É apenas um forma minha de me unir a uma pessoa e aprender um pouco com ela sobre seus aspectos espirituais. Gosto de me entregar sem reservas quando gosto e admiro alguém, sabe? E para isto sou uma pessoa capaz de me despojar de qualquer orgulho ou vaidade. Todo mundo tem algo pra ensinar ao outro.
Eu creio no Amor, sabe? E sinto que é isto que me move na vida. E se alguém não quiser ou não souber me amar, o problema é dela. Eu sempre vou continuar dando amor e me sentindo amada. Meu caso com o C... deu certo, e já te contei o quanto sofri depois que ele se foi. Porém, não acho que meu amor acabou aqui, pelo contrário, continuo transbordando de amor e quero encontrar outras pessoas para viver esse grande amor que possuo dentro de mim. Se eu pudesse escolher minha morte, gostaria de morrer de amor, delirando e em êxtase! Já pensou que morte boa seria esta? rsss...
Tu vais ainda encontrar alguém que te ame de verdade, querido, e vais te sentir muito amado ainda por esta pessoa. Mas, dê uma chance para o verdadeiro amor. Esteja aberto pra que isso aconteça. Não fique chorando por quem não te merece, não pôde ou não soube te amar. Mas, quando estiver amando alguém, cuide para que este amor seja sincero e especial, cuide para não ferí-la ou magoá-la. Cuide desse amor como se cuida de uma flor.
Obrigada, amigo, pelas doces e encorajadoras palavras. Quando tu me chamas a atenção para algum texto meu, releio-o e encontro a beleza de que falas (vês como preciso de teu olhar sobre mim?). Talvez eu o publique, sim, já que tu o achaste bom e publicável. Porém, não foi escrito com esse intuito: são palavras simples para ti que expressam o que me vem do coração. Vou ver. Gosto quando tu me incentivas à escrita....
O C... era um "devorador" de livros; lia tudo o que passasse em suas mãos - da Engenharia à Filosofia; da Informática à Psicologia, Teologia, História, Política, Romances...tudo, tudo! E eu adorava isso nele. Meu maior prazer era lhe dar livros de presente e depois, recebê-los de volta todos processados, resumidos e mastigados (preguiçosa que sou!..rsss). Mas, de verdade, eu sentia um imenso prazer em vê-lo lendo e lendo. Ele era um poço de saber e questionava tudo o que lia.
Teve uma biblioteca grande , sim, com livros de todas as espécies. A maioria, eu guardei (escondi-os de mim), para tirar de minha vista os "pedaços" dele que tanto me faziam sofrer.
Foi um grande homem, sim. Mas sua existência terminou e foi breve mesmo. Porém foi muito intensa e deixou marcas e frutos nesta vida. Hoje em dia, acho que fui uma felizarda tendo ele ao meu lado por tantos anos. Nos amamos muito, sim. Ele me ajudou nesta vida, e eu a ele. Mas, acabou. Esta
etapa foi concluída como deveria. Agora, me preparo pra uma nova etapa em minha vida, e espero adquirir outras ricas experiências com outras pessoas e outros amores.
A gente não tem que "engolir" a morte, amigo, ela está por aí quer a gente queira ou não. Vamos viver da melhor forma enquanto ela não chega pra nós. Esquece a morte, querido, pensa na vida.
Com todo o carinho que me despertas e que me faz sentir plena e transbordante para a vida, aqui me despeço, te desejando dias melhores e mais felizes.
Um abraço forte e afetivo da amiga
Marisa