Uma carta para Marilda Confortin

Brasília, 12/07/24.

Querida poeta!

Como vai? O tempo passa por nós como labaredas de fogo. Num piscar de olhos, o nosso relógio biológico muda de estação e ano. Parece que foi ontem que lhe mandei a última carta. Espero que esteja bem, como me disse da última vez. Por aqui está tudo andando nos trilhos, nada de novo. Minhas Flores estão lindas e perfumadas. Graças a Deus!

Hoje não vou falar de nenhum terceto, nem mesmo sobre o Poetrix. Decidi dar as férias dele porque ele merece! Estou interessado em alguns autores do passado. O número de poetas que cometeram suicídio me chama a atenção. Me assusta!

Sempre quis saber como os escritores que eu gosto de ler morreram. Alguns deles tiraram as suas vidas ainda jovens, curiosamente muitos poetas. Isso me preocupa porque a poesia quer o belo, não a morte. Ela é uma forma de expressão marcada pela subjetividade, que revela pensamentos, sentimentos e estado de espírito do autor.

A primeira coisa que faço ao ler um autor desconhecido é ler a sua biografia. Quero saber a sua nacionalidade, época, país e cidade onde viveu. Isso me ajuda a entender melhor os seus textos. Apesar de não saber traduzir nenhuma palavra russa, vou sugerir dois poetas soviéticos para que você avalie, mesmo sabendo que nem sempre as traduções são boas para o nosso idioma. As rimas, principalmente.

A minha escolha por esses poetas se deu por dois motivos: primeiro porque eles foram contemporâneos da década de 20, segundo por serem fervorosos rivais. Na minha opinião, eles são bem diferentes, não sei o porque dessa rivalidade.

1º) Serguêi Iessiênin

Ele é considerado um dos maiores poetas russos do início do século XX. Nasceu em 1895 e suicidou-se num quarto do Hotel Inglaterra em 1925 aos 30 de idade.

Vejamos um dos seus poemas que já demonstra sinais de rivalidade e um potencial suicida. Gosto muito.

- ATÉ LOGO COMPANHEIRO

Até logo, até logo, companheiro

guardo-te no meu peito e te asseguro:

o nosso afastamento passageiro

é sinal de um encontro no futuro.

Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.

Não faças um sobrolho pensativo.

Se morrer, nesta vida, não é novo,

tampouco há novidade em estar vivo.

Uma de suas frases mais conhecidas é: "A infâmia veio a mim. Que sou um abusado e fofoqueiro”.

O outro poeta que gosto é Vladimir Maiakovski, também chamado de "o poeta da Revolução", foi dramaturgo e teórico. Frequentemente citado como "o maior poeta do futurismo" do século XX.

Existem várias versões para a sua morte. Oficialmente, suicidou-se com um tiro, em 1930, sem que isto tivesse alguma relação com sua atividade literária e social. Porém aponta-se a possibilidade real de um suicídio forjado por motivos políticos.

Um dos seus poemas que eu gosto e recomendo. Veja:

- COMUMENTE É ASSIM

Cada um ao nascer

traz sua dose de amor,

mas os empregos,

o dinheiro,

tudo isso,

nos resseca o solo do coração.

Sobre o coração levamos o corpo,

sobre o corpo a camisa,

mas isto é pouco.

Alguém

imbecilmente

inventou os punhos

e sobre os peitos

fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.

A mulher se pinta.

O homem faz ginástica

pelo sistema Muller.

Mas é tarde.

A pele enche-se de rugas.

O amor floresce,

floresce,

e depois desfolha.

Com seu amor pelo campo, Iessiênin não aceitava os poemas revolucionários e industriais de Maiakóvski.

Durante uma leitura aberta ao público, Iessiênin disse que não daria “sua” Rússia a ele: “A Rússia é minha! E você é um americano!”.

Maiakóvski, por sua vez, respondeu sarcasticamente: “Então sirva-se! Coma-a com pão!”.

Estas falas deixam claro a rivalidade entre eles.

Espero que goste desses poetas como eu gosto e me conte sobre sua impressão sobre cada um deles, um grande abraço! Mas não se preocupe não vou me matar. Como você me disse: já passei da idade.

... E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 12/07/2024
Reeditado em 26/07/2024
Código do texto: T8105448
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