Carta à moda antiga

Querido Enrico,

Eu espero que você esteja bem (eu estou com uma saudade imensa de você).

Sei que não faz muito tempo que você partiu para ir atrás do seu sonho, mas já sinto sua falta em todas as partes da casa.

Você me disse que eu poderia escrever. Acho que se referia a e-mail e mensagens eletrônicas. Mas sabe que eu sou à moda antiga, gosto de escrever no papel, porque me parece mais pessoalíssimo. Sei lá, parece que vai um pedacinho de mim para você.

Eu espero que você esteja feliz.

Já conheceu muitos lugares? Já passou mais o frio na barriga por estar em outro lugar que não conhece ninguém? Ainda está sentindo a expectativa de algo novo?

Eu espero que tenha encontrado paz no caminho. E que os seus pés ainda tenham decorado o caminho de volta para casa para o dia que você decidir voltar para cá.

Eu espero que Deus esteja com você. Eu sei como é apegado a sua fé. Nunca fui muito uma pessoa de fé, mas você me fez acreditar em qualquer coisa apenas pela chance de te fazer bem. Espero que você encontre a tranquilidade que te faltava aqui, e que tuas angústias possam descansar de você. E que o amor continue latente em nós.

Eu espero que você e o idioma italiano tenham chegado a um consenso.Que a sua língua não enrole quando você for pronunciar as palavras mais difíceis dos seus exercícios. Ou enrole e me mande áudios que sempre me fazem rir até não aguentar mais. Por favor, continue enviando a sua voz grave que sempre faz suspirar, quando fala o meu nome. Ainda mais com o sotaque italiano.

(Isso melhora muito o meu dia).

Eu espero que você também fale sobre a gente. Que os seus novos amigos gostem da minha versão que você vai apresentar de forma tão teatral. Tenho certeza que você vai me fazer tão corajosa e heroica. Afinal, você adora me chamar de pequenina e valente. Porém, não fale nada sobre a parte negativa da gente. Sempre há um lado feio do amor. Porque eu sei que nós fomos bons um para o outro, mas nada que causasse mal ou algo irreversível. Por esse motivo, eu quero que você conte a história do dia que tu perdeu a chave de sua casa e eu precisei pular o muro porque tu ainda não superou o medo de altura e insetos. Estava chovendo e ficamos encharcados. Você ficou com medo de eu cair em algum momento e só ficou tranquilo quando eu gritei que cheguei inteira do outro lado. Você ficou tão fofo com as rugas de preocupação comigo. Depois que consegui abrir a porta, ao quebrar a janela, te fiz chá de maçã e mel e você me contou que a chave reserva estava no vaso de planta. Que cabeça a sua. Nós rimos demais de toda a situação. Que dia feliz!

É, estamos assim agora, com um oceano de distância entre nós. A minha voz já não te alcança mais. Contudo, espero que com essas linhas você possa me ouvir.

Eu espero que você esteja bem.

Eu estou bem (com uma saudade imensa de você).

(Escreva uma carta para mim também, por favor).

Com amor,

Antonella.