CARTA PARA PRINCESA LAVÍNIA GOMES GRÜNEWALD

Querida Lalá,

Aos dois anos de idade, diferentemente de mim, do seu avô, do seu pai e do seu tio, na mesma idade, você já reconhece todas as cores, as formas geométricas, as letras do alfabeto e os números até 10; então, eu creio que você será capaz de ler e interpretar essa carta, antes dos 7 anos, mas, como pode ser que eu não esteja mais por aqui e nem possa esclarecer nenhuma dúvida, tentarei deixar claro tudo o que meu coração ditar.

Antes de mais nada, minha princesinha, eu quero que você saiba que eu sou imensamente agradecida a Deus por você existir, por encher de alegria as nossas vidas e, também, por ser, fisionomicamente, tão parecida com uma menininha de uns quatro anos de idade, que há muitos anos “mora” em um porta-retrato, sobre uma estante da nossa sala.

Independentemente de todos os seus encantos, eu sei que eu a amaria com a mesma dimensão do universo, onde ficam todos os planetas, as estrelas, os asteroides...Sobre esses corpos celestes e o equilíbrio existente entre eles, quem explicou foi o seu bisavô quando, certa noite, por uma janela observámos um lindo céu estrelado.

A sua história começa muito antes de mim, passa pelas florestas e pelas senzalas, mas, mais recentemente, há nela o Capitão Nilo e a Dona Ataly, por quem você pode ter muito orgulho, pois legaram a mim e aos meus irmãos, exemplos que carregamos em nós até hoje e que estão incutidos em nossos descendentes: generosidade, desapego material, coragem para trabalhar, seriedade ao que nos dedicamos, amor à leitura, às pessoas e aos animais, além de afeto sincero, abraço apertado e beijo verdadeiro. Há grande chances de você herdar essas características, também.

Antes que eu me esqueça, saiba que não existem bois das caras pretas, nem cucas, nem bichos papões, mas, infelizmente, há homens e mulheres perversos, canalhas, que na escala da evolução humana, estão mais perto dos Neandertais do que dos ensinamentos deixados por Jesus. São seres egoístas, que estarão sempre dispostos a satisfazerem suas ânsias por poder, sexo ou dinheiro. Por essas três coisas eles são capazes de mentir, trair, desprezar, subjugar, matar.... Rogo a Deus que a proteja desse tipo de gente, resplandecendo sobre você uma luz brilhante, capaz de as afastar para as trevas de onde nunca deveriam ter saído.

Quanto ao dinheiro, deve ser, realmente, muito bom tê-lo para viver confortavelmente, para conhecer lugares maravilhosos, para comer e beber prazerosamente, e para vestir-se elegantemente. Para conquistar tudo isso, busque adquiri-lo honestamente, mas lembre-se de que ele não pode ser a razão para você esquecer-se ou deturpar os ensinamentos de Jesus em Mateus 25:35-45. Recorde-se de que é nesse trecho da Bíblia que Ele nos disse como devemos tratar aqueles que muita gente ignora, como se eles fossem invisíveis ou não fossem filhos do mesmo Pai.

Não sei qual profissão você escolherá ter, mas qualquer que seja ela, saiba que o mais importante é você ser feliz, é ir trabalhar com prazer, tratando as pessoas da mesma forma como você gostaria de ser tratada. Leve muito a sério todos os seus estudos, e autonomamente ou não, busque estudar os idiomas que possam descortinar novos saberes e não deixe de conhecer os pensadores gregos, pré e pós-socráticos, pelo menos.

Os bons sentimentos devem morar, permanentemente, em seu coração e devem ser a base do seu agir. Aos distribui-los, hierarquicamente, priorize o amor, o respeito, a consideração, a gratidão e a honra aos seus pais e à sua família, porque foi com esses sentimentos que você foi concebida, criada e é com essas pessoas que você poderá, verdadeiramente contar, sempre.

Pratique a empatia sempre que possível, ou seja, coloque-se, de verdade, no lugar do seu próximo. Mesmo que seus amigos discordem disso e a considerem “babaca”, saiba que o seu compromisso é com Deus, com a sua consciência, com seus princípios e com seus valores morais.

Embora as conceituações desses termos se confundam, é importante saber que os princípios (Amor, felicidade, liberdade, paz e plenitude) têm como alvo primordial o bem da humanidade, sobrepondo-se aos nossos interesses pessoais. Colocá-los em prática exige que ajamos guiados por preceitos universais rígidos, por regras incontestáveis e atemporais. Já os valores morais, na verdade, são individuais, subjetivos, relativos, influenciados pelo externo, pelo contexto, pela época, pela cultura, pelo objetivo, pelo tempo e pelo interesse particular. Eis por que não são esses os balizadores da ética.

Rogo a Deus que te dê uma longa, saudável e muito feliz vida, que seus caminhos sejam planos, lisos, floridos, abençoados e protegidos. Que seus amores e amigos mereçam a sua verdade, sua total dedicação, os seus melhores afetos, abraços e beijos, mas não hesite em extirpá-los de seu coração (e nem precisa lhes dizer isso), se eles se revelarem egoístas, ingratos ou canalhas, pois não mereciam você.

Antes de finalizar, minha netinha querida, eu lhe lego dois ensinamentos que tenho carregado em meu peito e são responsáveis pelo ser humano que eu sou. O primeiro vem de um grande filósofo da nossa época: Mário Sérgio Cortella. É ele quem diz que mesmo que a vida seja curta, ela não precisa ser frívola ou banal; é preciso que nossa ausência no planeta faça falta para, pelo menos, uma parcela da humanidade. O segundo ensinamento vem de minha professora de Literatura Inglesa e Americana, Geysa Marques: “Viva o seu presente, de modo a que no futuro, você não se envergonhe ou seu arrependa de seu passado”.

Finalizo evocando a ideia contida na canção sobre a rua ladrilhada com pedrinhas de brilhantes, que você adora cantar: “Se esse planeta, se esse planeta fosse meu; eu mandava, eu mandava colocar, muito amor nos corações de todas as pessoas, só para nele, só para nele Lavínia morar.”

Ass. Vovó Norma

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 26/06/2024
Reeditado em 22/10/2024
Código do texto: T8094359
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