E a carta não chegou II
Floriana,
Escrevo-te pela madrugada tumultuosa da cidade das Acácias
Eu,velando,cogitei esta sucinta epístola pelejando incertamente com a minha petulância…
Chegou-me a decisão quando bruscamente livrei-me dos cobertores
Liguei o MP3 e ouviu-se “Namoro” de Paulo Flores
Rogo que te tenha sobrado alguma partícula do coração
Para que recebas sem ultraje esta minha confissão
É a minha última carta.Depois de milhares que não chegaram
Algumas porque rasguei.Outras porque as minhas lágrimas as molharam
Flor,
A madrugada foi desassossegada
A minha soberba julgava -se culpada
E passei-a assim,em claro,com uma dor profunda de amor
Pensando no passado com culpa
Culpei-me por tudo e ainda assim,
fui infeliz na censura que me impus a mim
É insuficiente essa desventura
Eu mereço uma vida eterna duma cruel amargura
Não mereço perdão por deitar as tuas lágrimas
Falhei absurdamente mas,
fiz muita penitência
E esta carta é a declaração de que tomei consciência
Ao fim ao cabo
Preciso confessar uma inoportuna verdade
Este escrito foi também movido pela saudade
O remorso é gigante
Mas a nostalgia é ainda cruel e asfixiante
Não rogo o teu perdão
Escrevi para me livrar da saudade e me salvar da solidão
Mas se a carta te chegar
Queira me perdoar.