Epístola de domingo: monólogo sobre a sujeira
Da última vez que nos vimos, senti que seu olhar não queria me encontrar. Sinto também que talvez não tenhamos uma conversa, nem o carinho e empatia de outros tempos.
Me sinto suja. Estou refletindo os porquês de minhas atitudes e sempre retorno ao vai e vem de situações que me sujaram, e agora me sinto sujando o presente.
Vez ou outra eu escrevo alguma carta a um amigo que já se foi. Com ele consigo ser muito sincera, e me alivia poder contar as decepções que tenho comigo mesma.
Você não se foi…. Escrevo esta carta para me entender, para reunir esses monstrinhos que me corroem e chegar a alguma conclusão.
Eu sinto muito e preciso dizer que estou esvaziada e fiz coisas para tentar me preencher, mas permaneci vazia, e agora desanimada. Estou cansada de tentar entender minha mente, meu coração e meu corpo, me pautando no passado. Meu presente parece construído de relações já vividas, e isso é cansativo demais!
Não quero mais chorar, não quero mais existir desta forma.
É reconfortante o quanto sei que me conhece e foi capaz de me amar.
Em seus olhos eu sempre encontrei um carinho que me desestabiliza e me torna reflexiva sobre o que mereço e desejo para mim. Me desculpe. Te ajudei a perceber que eu não posso fazer parte da sua vida, não foi?!
Meu corpo está caminhando por aí, e estou numa fuga insuportável desde sempre.
Em meu coração sempre haverá um pouco de você.