Querido Joseph

Depois de séculos calada, volto à te escrever. Neste tempo calei-me, respeitando seu silêncio profundo. Tinha medo invadir sua privacidade e fazer de sua vida o caos outra vez. Te peço perdão pela dor causada, pelas palavras tortas, nodais, pela não compreensão de seus sentimentos e coração.

Aqui vai indo. O tempo corre lépido e me perco entre uma letra e outra de meu pensamentos, sentimentos em polvorosa só em pensar em teu nome.

Anoiteceu na abadia de Saint-Michel. De onde estou contemplo as luzes que a iluminam em seu silêncio de sinos.

Ouço o barulho do mar pela escuridão do universo. Ao longe o som de uma voz que ensaia algumas notas de uma melodia. E perto, bem perto o retumbar barulhento do meu coração.

Hoje ele faz um barulho ensurdecedor porque lembra com saudades de tua voz de tanto tempo atrás, dois séculos de tempo, me dizendo ao telefone: "se você quiser eu escrevo". E eu disse: "eu quero". Era o ano de 1883. Apenas 7 anos desde o primeiro telefonema que me fizeste quando o aparelho surgiu em 1876...

E teu coração ouviu o meu. E falou. Falou sim. Tuas cartas chegaram até mim com a grandiosidade de teu amor. 

Até que o medo tomou conta de tua alma mais uma vez. Então você se calou. E agora meu coração chora a tua ausência. Ah! Se ele pudesse hoje falar mais uma vez e ser ouvido por ti. Eu quero. Quero sim. Quero muito - ele iria gritar -.

E, no entanto, estou aqui, olhando o sonho que me presenteaste, onde um homem caminha só em sua estrada. Vai, maleta na mão, para algum lugar. Buscando seus caminhos...

Reli os 7 deveres que me ordenaste. Tão difíceis de cumprir. Não porque não queira, mas porque uma parte do que cabe a Marie fazer não depende unicamente dela.

Hoje também li as 7 cartas cartas que me enviaste nesta segunda fase que foi tão bruscamente interrompida. Fecho os olhos e ouço você falar. Viajo em tua voz. Navego em teus sentimentos. Sinto a grande luta de um homem em busca da espiritualidade. E, não me privo de chorar. Como dói a tua ausência.

Olho teu nome ao lado do meu em tantos jornais do mundo. A sinaleira da estrada que nos conduz escureceu e nunca mais as cores da esperança e nem da paixão eu vi acender.

E todos os dias, desde a última vez, há tanto tempo atrás, eu venho aqui neste cantinho só meu e teu contemplar a abadia. Ninguém mais vem aqui. Somente você e eu.

Te olho silencioso. Como se você ainda estivesse aqui. Vejo as tuas luzes e as letras de teu nome tocando-me, caminhando em minha direção como a me dizer: - "espera maria. Espera. Um dia, quando eu perder o medo, quando eu conseguir entender que minha alma está entrelaçada com a tua eu venho para te encontrar. E então no céu um arco-íris de poesia dançará a melodia do nosso amor".

Me espera: Te espero! Sou tua cotovia ardente de amor!

 

Tua Marie

Saint Michel, 17 de julho de 1889.