Cartas Perdidas de Ocelot I - 12

Caro tio Donan,

Já se passou mais de um ano desde que lhe escrevi. Certamente teria se passado ainda mais tempo, pois só escrevo agora para dar-lhe a notícia que ainda faz meu coração sangrar: Dulcélia faleceu e ontem sepultei a minha amada. Junto com seu corpo frio, foi enterrada metade de minha alma.

Os últimos meses foram os mais tortuosos de minha vida, pois tive de ver minha esposa definhar, enquanto as obrigações da realeza não me deixavam em paz. Tentei estar com ela em todos os momentos, tentei tratar a enfermidade com todos os recursos, tentei rezar a todos os deuses. Mas nada salvou a vida da mulher que trazia luz ao meu mundo. E agora tudo está frio e cinza. O próprio sol nascente passou a ser uma afronta ao meu luto.

Os conselheiros pediram para eu decretar um ano de luto em todo o reino, mas não o fiz. Na verdade, o mundo inteiro poderia afundar nas águas do oceano, eu não ligaria. Mas de qualquer forma, o povo está de luto por vontade própria, não que isso mude algo para mim. Porém, aqueles velhos príncipes não se importam com minha perda, apenas têm raiva da aprovação que tenho em Panthea. Faz dias que tenho queimado as cartas deles, não obedeco mais ninguém e não me importo que ameacem me matar.

O único com quem tenho falado é o sacerdote Benoit. Ele apenas me escuta, sem tentar me convencer de que a vida ainda é boa ou que tudo que aconteceu foi a vontade dos deuses. Aos que tentaram isso comigo já mandei embora. Estou lhe escrevendo apenas por respeito, mas cada palavra neste papel me faz lembrar da minha amada.

Respeitosamente,

Seu sobrinho, Ormano

M Henrique
Enviado por M Henrique em 21/05/2024
Código do texto: T8068272
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