SONHOS AO ACASO

 

 

Mais uma carta, menos um segredo... Mas embora escreva imensas cartas, poucas as envio. E eu sei o quanto gosto destes meus desgarrados desabafos de alma, meio doces, meio amargos, como este homem que ao longo do tempo aprenderão conhecer. Humilde, romântico… Meio vivo, meio inanimado. Eu segurei-o, de forma corajosa, persistente e incansável, toda a minha vida adulta. Se houve timoneiro que conheceu tempestades ao longo dos anos ou barco que as atravessou sem vacilar, eu fui um deles. Talvez demasiado demais… E, no entanto aqui estou tantos e tantos anos depois, ainda á procura do rumo certo. Com muitas batalhas vencidas, mas também algumas perdidas, nesta eterna guerra a que chamamos felicidade. Nem sempre tive o discernimento de usar a corrente a meu favor quando ela puxava na direção que eu pretendia ir, poupando assim valiosas forças para lutar contra ela nos dias em que puxava na direção errada. Agora compreendo á distância dos anos, porque nem sempre venci algumas batalhas com que me deparei. Talvez esse tenha sido o meu maior erro. Um erro comum, cometido por um homem comum, vivendo a sua vida comum, mas ainda assim um erro. É inegável que guiava o barco, lutava valentemente ao comando do leme, mas não o fazia por mim. Havia sempre alguém que precisava mais de mim do que eu próprio. E assim fui vivendo, em função das marés de outras vidas, de outros timoneiros á deriva que precisavam do meu porto seguro. Vivia mais, mas sobrevivia menos…

 

 

Baú do passado: Escrito em 03/03/2023