Carta a um amigo que errou
Em um mundo que boa parte da humanidade coloca as coisas no relativismo, onde até as guerras com sacrifícios de inocentes são justificáveis, imaginem só a ausência de valores, de princípios e pequenos erros cometidos em algum momento da vida de um vivente. O mundo está virando de ponta cabeça e o que é certo, hoje em dia, a sociedade, de maneira geral, está considerando como se fosse o errado e o que era errado estão querendo dizer que é o certo. Mas, perante a Deus não há relativismos e nem meias verdades, uma coisa não é boa ou é boa, não existe meio termo, pois Deus é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Nenhum ser humano está livre de cometer erros nessa vida, todos somos sujeitos a falhas em algum momento, seja por ignorância, por falta de consciência ou esquecimento. Não existe ninguém que esteja sempre certo todo o tempo e, se em algum momento da vida, a pessoa pensar assim, é porque existe algo de errado com ela.
Uma coisa importante de entendermos é que o erro não é propriamente a pessoa em si, muitas vezes está na pessoa, mas não é a pessoa. Todos somos capazes de nos corrigir e ficar livre daquilo que fizemos ou pensávamos que era certo fazer. Às vezes, podemos fazer tudo certo e em algum momento incorrer em um erro, isso é normal nos seres humanos. Mas, às vezes, é o suficiente para as pessoas julgarem e dizer: “fulano é assim” e assim, cristaliza-se a imagem da pessoa naquilo de errado que ela fez. As vezes o tempo passa, a pessoa se corrige, se dispõe a não fazer mais aquilo, mas algumas pessoas guardam aquela imagem congelada pelo que ela fez de errado, mesmo tendo muitos bons feitos. Isso dói profundamente em uma pessoa que é julgada por pessoas que ela considerava amigo dela. Um dia também seremos julgados pela lei do nosso Salvador. Aprendemos que uma vez reconhecendo o erro e não errando mais, aquilo fica no passado e serve apenas como aprendizado. Aquela prática morre em nós e nos libertamos daquilo, pois aquilo passa a não nos pertencer mais, simplesmente estava em nós. Essa é a nossa grande missão, se limpar e purgar os pecados desse mundo de pecadores, e assim recebermos o perdão de Deus. Errar é humano, mas persistir no erro é burrice e ignorância.
Uma vez que erramos e compartilhamos os nossos erros com alguém em quem confiamos, esperamos que esse alguém guarde sigilo daquela confissão. Mas, dependendo do erro e independentemente de contarmos ou não, se estamos em um caminho de desenvolvimento espiritual, é muito difícil algo em nossa vida ficar oculto por muito tempo. Também não adianta mentir, pois como dizem os antigos “mentira tem pernas curtas”, logo a verdade aparecerá, mais cedo ou mais tarde. Se a pessoa fez algo de errado é melhor limpar logo a situação e deixar todas as coisas às claras, a vida fica mais leve e é mais fácil de viver sem o peso dos débitos passados. É sempre bom passarmos com a verdade, passar nossa vida a limpo todo o tempo e todos os dias, para que a claridade possa chegar em nossa consciência e assim vivermos em Paz. E atenção! Existem algumas coisas de natureza tão nociva, que devemos nos manter longe delas ou nos desvencilhar delas o mais breve possível para que não façam nenhum estrago na nossa vida.
É importante que saibamos que ao compartilharmos nossa intimidade, ficamos expostos ao outro. Existem poucos amigos que guardam nossas confidencias com toda a segurança que, às vezes, necessitamos, logicamente de coisas que não impliquem em alguma falta grave ou infringência as leis ou algo parecido que não deve ser feito por um vivente do Bem. Mas, mesmo sendo muito difícil é possível encontrarmos pessoas fieis, pois existem verdadeiros amigos que nada pedem e sempre estão dispostos a darem o seu melhor. Sempre nos aconselham no caminho do Bem e nos oferecem um bom abrigo em seu coração e um ombro onde podemos nos apoiar e desabafar de vez em quando, aliviar nossas dores e a carga que, em determinadas horas, pesa muito e fica difícil de carregar sozinho.
Já dizia o poeta Fabrício Carpinejar “Só confesse suas fraquezas para quem te fortalece”, temos que saber a quem falamos, caso contrário é sujeito nossa palavra cair no vazio ou o que é pior ir parar nos ouvidos de quem não convém e sermos expostos de maneira desnecessária. Temos que saber a quem pedir, pois não são todos os que tem o que dar.
É preciso saber bem a diferença entre darmos a mão aos amigos cativando-os, daqueles que querem manter o amigo cativo, preso no seu círculo de amizade. Aqueles que sufocam o outro com suas conversas, arrogância e falas intermináveis, jamais escutando o outro, sem ouvir o que ele pensa, o que está precisando e sentindo. Já dizia um filósofo antigo que quanto menos os homens pensam, mais eles falam. Às vezes, a carência das pessoas é tão grande que o desejo de falar e receber atenção é maior que o desejo de ouvir o outro e doar de si o amor, o zelo e o cuidado. Pois amar não é ter sempre o apoio, a segurança, o abrigo do outro e sim a doação que podemos fazer do nosso tempo, da nossa atenção, do nosso olhar ao outro. Nem sempre concordando com tudo que o outro faz ou pensa. Cada um é um e isso que é mais bonito na amizade verdadeira, as diferenças nos servem para enriquecer o nosso conhecimento e a nossa firmeza.
Com o tempo aprendemos que não devemos manter as pessoas dependentes de nós pois não somos eternos e nem sempre estaremos presentes fisicamente na vida das pessoas amigas. Aprendemos que ao cairmos o mundo não acaba e temos a oportunidade de levantarmos e crescer perante aos erros, aumentando nossa bagagem espiritual, nos fortalecendo ao invés de ficar lamentando o tempo perdido. Aprendemos a construir no presente nosso abrigo futuro, cultivando bons amigos, plantando flores em nosso caminho e no caminho do nosso próximo, zelando sempre pelo nosso plantio, pois quem planta e zela pelo plantio com certeza colherá belas flores em sua vida.
É normal que haja algum atrito em determinados momentos de uma convivência, mas não é normal guardarmos rancor ou mágoa por algum desentendimento. Desse modo devemos sempre andar com a força do perdão dentro do nosso coração, pois faz muito bem essa dádiva divina chamada perdão e é o que mantém um relacionamento sadio por muito tempo.
Muitas vezes leva-se um bom tempo para se construir uma confiança e uma amizade verdadeira, mas se não cuidarmos bem um do outro e das nossas atitudes, em poucos segundos é sujeito tudo desmoronar e ir por água abaixo. Existem determinadas coisas que as pessoas fazem, que ela pode se arrepender pelo resto da sua vida e mudar todo o rumo de uma boa amizade ou uma boa convivência. Temos que ter muito cuidado nessa nossa caminhada, se queremos realmente uma vida feliz e sem grandes tropeços.
A história é de alguém cujo pai era alcoólatra e também depois de adulto virou alcoólatra. É muito comum entre os filhos de pessoas que bebem bebidas alcoólicas também quando adultos queiram fazê-lo. Pois, geralmente aqueles pais dizem para as crianças, vocês não podem beber agora, somente quando adultos. Determinadas crianças já crescem com isso na cabeça, quando eu crescer vou poder beber. O álcool é uma droga legalizada das mais nocivas na humanidade, destruidora de lares, de famílias e causadora de diversos tipos de doenças e acidentes. Enquanto os fabricantes e distribuidores ficam cada vez mais ricos, muitos perecem. Mas, não é esse o objetivo dessa história, somente um preambulo para introdução do enredo.
Depois de um longo tempo viciado em álcool, já sem o devido controle da sua vontade, encontrou um caminho espiritual que o redimiu do vício e conseguiu se livrar daquela prisão. Constituiu uma família bonita, conseguiu um trabalho digno e tudo caminhava muito bem. A sua vida adquiriu um outro brilho e a felicidade junto a sua esposa e seus dois filhos era plena e muitas alegrias o rodeava com um círculo de amigos verdadeiros que também queriam o seu bem e da sua família.
Um dia precisou fazer uma longa viagem a serviço e os dias foram passando e a saudade de casa foi aumentando, assim também o distanciamento do seu caminho espiritual e dos amigos que o rodeavam. Começou a sentir-se só e sem o apoio que o manteve tantos anos longe da sua vida desregrada do passado. Participou de alguns encontros e festas com as pessoas do seu trabalho e muitos convites para beber alguns drinques de bebida alcoólica, os quais inicialmente resistiu, mas acabou cedendo por pressão dos colegas. Depois do primeiro gole veio outro e mais outro. No meio desse clima de entorpecimento mental surgiram alguns flertes com uma dama muito bem apessoada, que também anestesiada pela névoa de álcool foram seduzidos pela atração sexual e acabaram cedendo às orgias.
No outro dia, uma ressaca medonha, dor de cabeça, a boca amargando, veio o arrependimento dos atos impensados, o remorso da traição da sua família e a falta de fieldade com o seu Guia Espiritual. Mal podia se olhar no espelho, pois depois de tantos anos em um caminho de limpeza espiritual tinha voltado aquele inferno que era sua vida passada.
Na volta para sua casa o reencontro com a família, a alegria dos filhos e da sua mulher e aquele sentimento de remorso no seu coração. Como olhar nos olhos da sua esposa, ver o brilho da alegria e não se lembrar dos acontecimentos recentes? Depois de alguns dias, ainda com aquele sentimento no coração, um certo amigo falou de uma passagem de Jesus, dizendo assim: “Passe com a Verdade”, e procure se redimir. Desse modo, ele pode novamente se levantar e continuar sua caminhada e reatar seus laços afetivos com sua esposa e voltar ao convívio dos irmãos de Fé.
Quantas vezes algo semelhante já aconteceu com pessoas que procuram se erguer na vida, se libertar dos vícios? Quantas vezes é sujeito uma pessoa cair nas armadilhas da força negativa que tenta destruir a vida das pessoas e atrapalhar uma caminhada de construção de uma vida desembaraçada e livre de vícios e maus costumes? Mesmo assim, é possível se reerguer e continuar a caminhar em frente. Muitas vezes a pessoa é praticamente conduzida a errar e é preciso estar sempre alerta, não se aproximar muito dos perigos, dos laços da força negativa, dos vícios e dos falsos amigos que não pensam nas consequências das suas atitudes. Mas, se precisar de se aproximar daquelas coisas, esteja sempre alerta, procure sempre se lembrar de Deus, dos amigos verdadeiros, da família que te ama. E assim, estará livre de cair em tentações, em armadilhas sutis que procuram levar a pessoa para baixo e para a destruição de si mesmo.
Há algumas coisas que precisamos ter muita atenção nessa vida, por exemplo a ambição, o sexo e a exaltação. O dinheiro quando bem administrado é um bem precioso e faz muito bem a quem o tem e não se deixa ser escravo do mesmo. O sexo quando praticado com amor é muito bom e também uma dádiva que Deus nos deu. A humildade é o remédio contra a exaltação, o orgulho e também por onde podemos orar e sermos atendidos.
Sem essa atenção é difícil seguir uma caminhada espiritual com êxito, com progresso espiritual e sem muitas recaídas. Subir a ladeira do desenvolvimento espiritual é com muita luta e sacrifício, temos que suar a camisa, fazer um esforço grande para se lapidar e conhecer o plano espiritual, adquirindo assim a sabedoria em viver. Agora, para descer a ladeira, basta um piscar de olhos, um pequeno descuido, que a descida é rápida e muito fácil de acontecer. Aí teremos que recomeçar tudo novamente, com o agravante que uma vez quebrada a confiança em um relacionamento, ela é mais difícil de ser reconquistada e reconstruída.
Mas, não é impossível, pois com Fé em Deus podemos reconstruir nossa caminhada e construir novas obras no caminho do Bem, decorar o nosso interior com bons propósitos e bons sentimentos. Renovar nossa vida em bases mais firmes e bem estruturadas, com as experiências adquiridas. Podemos saber nos defender melhor das tentações e ser uma pessoa mais acordada no caminho do Bem. Curar nossas feridas antigas através da força do Perdão e viver uma nova vida, mais equilibrada e mais limpa. Podemos ser mais fortes e saber suportar os desafios e as dificuldades, acreditando sempre que apesar de tudo podemos caminhar um pouco mais a frente. Mesmo que não sejamos perdoados por alguém, podemos perdoar a nós mesmos e ter uma vida mais leve e feliz.
Lua crescente, Florianópolis, 31 de janeiro de 2020.