Carta da Mãe para a Filha

Minha vida,

Não te estranhes, tu és a minha vida, minha filha. Sempre foi minha alegria, minha doe companhia familiar. A razão pela qual escrevo, é porque ando aflita com você. Antes de tomares qualquer posição exaltada, por favor, não te preocupes. É que ainda não me acostumei em te ter tão longe assim das nossas vistas, dos nossos braços, e a saudades tomando conta de todos. Passaram apenas 3 meses. Prometi a ti que não choraria naquele aeroporto, e não chorei, mas sim, regozijei em júbilo dentro de mim. Por ti! Não te preocupes, não é nada sério. É apenas amor de mãe, instinto materno. Lembro de quando teu pai te pegava no colo e te levantava para o alto, dizendo alegre: “Nossa Lucinha nunca vai nos deixar, Martha!” E você ria às pampas, ainda bebezinha. Lembro de quando teu pai dormia no sofá da sala contigo em cima do peito dele, e eu acordava vocês na manhã seguinte, desarrumados, amarrotados e de mau jeito, porém, abraçados... Eu pensei que chegaria o momento em que nossa guarda já não seria mais suficiente, que tu terias que partir, mas não pensei que chegaria logo o momento. Tudo o que eu te ensinei, tudo o que eu pude fazer para te educar, te confortar, ter dar aconchego e amor no nosso lar, fiz com cautela e amor de mãe. Entristece a minha vista e a minha alma ter que aceitar que tu agora saístes para o mundo, que está desprotegida, longe do nosso teto, das nossas noites juntos no sofá da sala, dos jantares, onde barulhos de talheres eram interrompidos sempre por algum causo estranho do teu pai, ou que sempre terminava o jantar dizendo: “Deus abençoe a todos!”. Eu me sentia familiarmente em paz, sabendo que estavam todos ali. Ah, meu Deus... Eu não mudaria nada. Dinheiro nenhum no mundo poderia comprar a minha felicidade enquanto estava quieta, com vocês todos em paz, dentro de casa. Sei que um dia vou conseguir vencer a saudade e aceitar que a tua companhia aqui foi tudo de especial nas nossas vidas. Mas, por enquanto, deixe-me chorar mais um pouquinho cada noite, arrumando a tua escrivaninha, sentada na tua caminha, ainda sentindo a tua presença no teu quarto... Faz bem, faz bem. Bertoldo, o vizinho da frente, nos contou que desde que tu fostes embora, nunca mais viu movimento na nossa casa, até estranhou as luzes sendo apagadas cedo e todo mundo indo dormir. Até perguntou se estávamos de luto, imagina! Eu expliquei pra ele que tu tinhas ido embora, e ele entendeu, e disse que fez uma falta mesmo quando saiu da casa dos pais dele. Quando ele disse isso, imaginei se tu também estarias sentindo a minha falta, minha vida. Mas, que posso fazer agora? Já és crescida... Só te desejo toda sorte que eu poderia desejar a alguém, tão especial como tu fostes, sempre será. Teu pai te manda um abraço, e eu... Eu termino esta carta com os olhos umedecidos, mas o coração transbordando de alegria e saudade! Eu e teu pai estaremos sempre aqui, sempre que o mundo te fizer chorar, estaremos aqui para enxugar tuas lágrimas. Quando houver decepção no teu coraçãozinho, ainda estaremos aqui para te confortar, e eu te embalarei ainda como quando criança, porque para nós, tu serás apenas ainda a nossa pequena de sempre. E sempre que nossa pequena se perder, o caminho de casa estará no teu coração! Mamãe e papai te amam.

Amo-te muito! Com muitas saudades, Martha.