Uma vida, uma amizade, muitos afetos e afagos!

Nossa existência é um turbilhão de peripécias!

Algumas são de pouca monta, entretanto não são de menor importância; outras são devastadoras, em distintos parâmetros e intensidades do termo “turbilhão”, e nos prende a algo ou alguém!

Nesse enfiado de episódios que é nossa existencialidade, fatos, pessoas, coisas..., nos marcam de alguma maneira.

Por vezes são de pouca consistência e apenas ocupa espaço nos escaninhos da memória; em dessemelhantes vezes são intensas e, quando assim marcantes e veementes, é carregada de emotividade e afeto, tal como ocorre entre grandes amigos; nos acompanhada por toda nossa jornada existencial..., e por certo, até mais que isso!

Uma dessas pessoas, em especial, guardo com zelo e carinho muito, “no lado esquerdo do peito, dentro do coração”, como bem diz Milton Nascimento.

Nesse impulso de registro que tende a ser eternal – ao menos enquanto dure como escrito –, se faz presente um incorrigível contador de histórias; mentiroso crônico para os de pouca imaginação.

Ainda vivo e garboso, apesar dos pesados “janeiros” na cacunda, persiste com invejável memória e apreciável inventividade.

Um grande amigo, que o tenho desde terna idade minha; uma fonte de inspiração para muitas das historietas que escrevo em contos e romances: quando não me pautando em “causos” que me foram contados ou me espraiando na sua inventividade e estimulado por sua verve de inventador de histórias! ..., da qual não escapei e muito agradeço por ter sido por ela fisgado.

O vejo nos meu momentos de vivo lembrares, com sua fatiota de couro, montando um cavalo chegando para o baio, tangendo bois e aboiando em intrincados e dolentes melismas; o vejo no avarandado da Fazenda Abóboras, digladiando com outros inventadores de histórias, em disputa que não tem vencedor ou vencido; o vejo na pacata vida de hoje, sem o vigor físico de outros tempos, mas com lucidez na mente e no espírito, com afiada criatividade no contar de “causos”.

Um carneiro escapa do cercadinho..., você já não mais se inquieta em atalhar a fugida; apenas rezinga e complementa com um dito jocoso: – “Se nem eu quero ficar preso, que dirá esse pobre animal!”

Um breve olhar no horizonte, frente a esse imenso espaço aberto e pleno no alcance da visão, mira o Morro Dois Irmãos e exterioriza:

– Ali, naqueles morros, tem uns carneiros de ouro. São quatro. Não vi com esses olhos meus, mas Crispim da véa Joana presenciou os disgramados pastando. Ninguém nem pode chegar perto. Mas é muito ouro!

Meu querido amigo Zé do Catió! Passando o aperreio dessa pandemia, vou me ter com você para u’as boas prosas!

Guarde essas tardes escaldantes, onde a inclemência do sol nos obriga a buscar resguardo dessa aconchegosa varanda; peça a Doralice, sua esposa, que carinhosamente aprendi a chamar de Dora, para guardar um pouco daquela inigualável coalhada de leite cru!

Sei que na enfiada da noite, com lua ou mesmo sem a dita, a prosa há de continuar – muita e proveitosa!

Muito ainda tenho a aprender com você, dileto amigo!