Carta nº . XIII ( da Série Carta ao Amor )
Carta nº . XIII
( da Série Carta ao Amor )
Delasnieve Daspet
Caro Mio,
Falarei de algo que conheces bem.
Sim, és perito em julgar.
Divides. Fatias, Cortas.
Depois de tudo pronto - tua fala é única.
Não existe espaço para a dúvida.
Não entendo - não entendo!
Eu não tenho nenhuma certeza... aliás, minha única certeza é a certeza do nada.
Na infinitude do tempo, sou um pingo, alhures, sem eira, nem beira.
Mas sempre me espanto com as tuas certezas. É preto ou branco.
Nunca cinza.
Sou mais essa massa disforme, sem certeza, que se molda ao sabor das tempestades!
Ainda assim, quero debater contigo, neste monólogo, a ideia de até onde vai a capacidade de julgar os fatos e as pessoas sem ter certeza do que antes aconteceu.
Aliás, penso, sem qualquer humildade, que julgar coisas e deduzir apressadamente qualquer ou uma causa específica é uma falácia da petição de Principio, que chamam de Preconceito.
Não tenho certeza nem se existo, se amo, se me amam, se estou pendurada no espaço, se sou nova ou já envelhecida, pele lisa, enrugada, encarquilhada pelos ventos da vida....
Por isso e, por tudo, meu canto quase sempre é poente, pois o final é também o principio.
Ou não ? Tenho fé, crendice ou superstição?
Ouve-me, não sou dona da verdade, pois nem sei de mim.. Lembro, apenas, que o sol nasce envolto em lindos aromas todas as manhãs e a noite adormece no canto lunar.
" Ad Hominem" - nada provas com teus adjetivos desqualificativos, com tuas sentenças que denigrem.. apenas demostras que estas aquém, muito aquém, do progresso que todos temos direito - e que nos é reservado no momento sagrado da fecundação.
Todos temos capacidade de mudar, de criar, de errar, de perder ou de ganhar, de crescer ou não. Todos temos defeitos, alguns de nós nem imaginamos tê-los até que somos confrontados com os mesmos.
Olhe-se e olhe-me. Olhemo-nos, as vezes por meios estranhos descobrimos verdades tão arraigadas como o sol e a lua que irradiam luz, vida, ar.
Lembro-te que o azul, predomina sempre, nas cores que se misturam na difusa luz da tarde.
Olhe-me com olhar encantado, imagine-me andando na melodia dos sonhos, invadindo teu prazer, te possuindo, na doce sedução do que nos une.
Não julgue, não prejulgue, entregue-se aos raios que te afagam na última linha do horizonte, onde me encontro.
Procure-me, sonho tão sonhado que já se encontra aviltado, pela ausência que tumultua o silêncio presente!
Em Campo Grande, 14 de agosto de 2005.