Carta de Libertação II
Tu ris, né, Derquagot? Por que é que tu ris tanto? Por acaso essas linhas sinuosas acima de teus lábios são o nascer de um novo sorriso? Sei que tu ris da minha incapacidade de lidar com meus fracassos e das minhas decepções, mas tudo bem. E não é que a vida é assim, Derquagot. Momentos de calma e outros de euforia. Tento juntar as peças agora, alternando entre a dor e a saudade por tudo o que perdi.
Sinto saudades tuas, Derquagot. Por onde andas? Ainda estás vivo? Conversar contigo é como uma válvula de escape. E estando nós dois aqui eu te pergunto: será que eu decepciono as outras pessoas tanto quanto elas me decepcionam?
Que tal fugirmos para bem longe, longe deste mundo giratório, louco e insensível. Vamos procurar outras formas de aliviar a alma. Vamos nos sentir livres por aí. Que tal? Ei, Derquagot! Por que tu não paras de olhar para o lado enquanto eu falo contigo? Tu me escutas? O que estás olhando? Por que olhas para cima? Ah, são essas goteiras que sempre pairam sobre nós! Por que não me respondes, Derquagot?
Às vezes, fico pensando se tu existes. Serias tu apenas uma fantasia? Só sei, agora, que tu não és tu! Não sei, Derquagot! Não consigo visualizar teus lábios; tu pareces um borrão. Por que não respondes? O que faço com os sonhos que nunca se tornarão realidade? Bem que poderias saber prever o futuro, não é, Derquagot? Por acaso queres ir embora? Pois vai, então! Mas não te acomodes, pois logo te chamarei novamente...
É por isso que falo pouco. Sei que estás cansado de mim, Derquagot. E assim eu sigo. Se um dia eu mudar de rumo ou de pensamento, te direi. Prometo que tu serás o primeiro para quem eu vou contar.