Uma carta da Mata Brasileira para o Mar, na época da "colonização"
Esse dias fui surpreendido, deixe-me contar-lhe um pouco, os acontecimentos nos últimos dias por aqui: Um sentimento de estranheza me pegou quando observava ao longe, caro leitor, eu não estava habituado a novidades fora desta terra e seus mares, mas continuando, ao longe observei algo flutuando pelo mar e assim permaneceu a noite toda, admito que, apesar da curiosidade, deixei isso de lado. No dia seguinte, aquelas coisas flutuantes parecem ter ganhado maior proporção, e estavam em nossa terra, terra está de grandes florestas, povos e de bons rios, verdadeiras riquezas. Pelos cochichos, ouvi dizer que me deram o nome de Terra de Vera Cruz, estou sabendo agora da minha orfandade. Esta terra está cheia de povos nativos, deviam perguntá-los o nome desta terra por eles, por mim não saberei responder.
Caro leitor, há de compreender minhas indagações e motivações para escrever-lhe esta carta, desde esse dia e diante esta terra nunca mais foi a mesma. Pois bem, dentro daquelas coisas flutuantes, saíram homens, como os que vivem aqui, igualmente, mas há algo diferente neles, estão vestidos e posso presumir que seus olhares estão muito curiosos em relação aos nativos e a este lugar. Para citar mais características deles é que são claros, muito claros, se cobrem completamente e são… peculiares… Dos povos que aqui vivem, estes são os primeiros com tais excentricidades. Curiosos como são, passaram a andar por esta terra e com os povos daqui, numa noite dessas, me disseram que o jantar em conjunto não deu muito certo, não tinham quase nada em comum, as comidas em nada agradaram os nativos, exceto o papagaio. Em outros dias, passaram a conhecer as praias, os rios, as matas; juntamente com os nativos. Tenho a vaga impressão de que eles possuem grande curiosidade quanto à forma de viver destes Nativos, sem vestes, furados e pintados, que me perdoe leitor, mas com um ar de superioridade. E eles da mesma forma com toda aquela vestimenta. Por eles foi realizado um tipo de veneração a algo onipotente maior que todos nós, de grande influência e devoção da parte deles,perto da praia, com oferendas e com ditos que o “achamento” desta terra se deu a causa da graça divina. Horas depois, tanto os nativos como os flutuantes passaram a trocar objetos, sem medir valor a tais, observaram as mulheres e as crianças, acredito que os nativos transmitem mais sinceridade para com eles, do que eles para os nativos. Ambos não parecem se compreender mutuamente, mas isso claramente não os impediram de comemorar, o que quer que fosse, acredito que tudo está sendo resumido às riquezas desta terra. Pelos dizeres, ambos não se comparam quando o assunto são qualidades, os nativos são verdadeiramente da terra, e os flutuantes bem querem as suas posses. Bem, com os passar dos dias e das convivências, percebo que os nativos já não carregam consigo os arcos e setas, porém, ainda não parecem confiar o suficiente para apresentá-los o abrigo que lhes protegem das tempestades.
Pois bem, mostraram-lhe suas casas compridas, feitas de madeira. E eles as compararam com as barcas flutuantes, a chamam de “nau”. No dia seguinte, os flutuantes lavaram as vestes, pergunto-me o que os Nativos acham de verem pela primeira vez um sinal de limpeza. E os ajudaram, claro, e dessa vez, totalmente desarmados, por outro lado construíram uma espécie de símbolo com dois pedaços de madeira, não sei qual será a utilidade. Por fim, depois destes dias calorosos, creio que tenham pretensões maiores em relação a esta terra e este povo. Bem digo leitor, para não maldizer, negativamente. Antes de partirem, fincaram a construção de madeira nesta terra, como que uma marcação de pertencimento, seria justo para com os nativos tais ações? Não saberei responder nesse exato momento, talvez com o tempo saberemos, caro leitor, o culto aconteceu outra vez, com a participação dos nativos que aparentemente tomaram aquilo como algo de bem, apontando para o céu. Depois de terminado, uma das ações deixou-me reflexivo, cobriram a nativa com tecidos, que mal eles veem? e beijaram as madeiras postas, por fim, à noite vi dois desses brancos saírem dos flutuantes para cá, enquanto os demais partiram há pouco. Será que vão voltar? Bom, de qualquer forma os flutuantes foram sumindo no mar, tenho quase certeza que depois destes acontecimentos os nativos não serão mais os mesmos, nem mesmo essa terra. Portanto, quando houver novidades voltarei a escrever-te Mar, não esqueça de me dizer para onde eles devem ter ido aceito hipóteses, Mata.