tamanho original CARTA PARA OSWALDO MONTENEGRO tamanho original



Remetente: Marcela Torres, uma aprendiz de poeta metida à besta como boa leonina que morreeeeeeeeee de inveja de não ter sido a autora de METADE.

Destinatário: OSWALDO MONTENEGRO
. Como não tenho seu endereço real (para sorte sua), vai aqui pela net, pelo MEU SITE mesmo... Quem sabe um dia você ao menos lê as besteiras que escreverei em seguida, né?

Obs.: Se resolver me processar por uso indevido e não autorizado de suas músicas e agora até de seu poema, dê-me ao menos a chance de defesa. Serei minha própria advogada, ok? Topo acordo em prestação de serviços, mas não comunitários! Só prestarei serviços se for para você... Não duvide de minha capacidade de defesa diante de um juiz... Ele usa conceitos enquanto eu uso
Magia...

Montenegro,

Não vou discutir a autoria de METADE. Louca varrida sou, mas já está registrado, é seu mesmo e me consola o fato de ser você o grande poeta que é. Brasileiro. E só. 

Poderia derramar-me em elogios, mas não gosto de fazer o tipo "tiete". Acho pedante, ridículo.
Mas não se assombre se um dia qualquer ao te encontrar eu mude de ideia e te lasque um beijo. Beijo na boca. Beijo de paixão que beijo na bochecha me faria ter a mesma vergonha, surtiria o mesmo efeito rubro em minha face e se for pra me arrepender, melhor que seja do exagero que do contido beijo tímido.

Não saberia o que dizer a você pessoalmente e certamente acabaria falando um montão de besteiras resumidas em uma única frase idiota. 
Certamente iria querer morrer depois...

Sabe, Oswaldo, enquanto você brilhava no festival com
"AGONIA", eu era só uma adolescente que torceu por você ouvindo sua canção sem parar, sem dar trégua aos ouvidos alheios em meio a minha agonia desatinada...

Depois perdi você e tudo o que compôs ou já tinha pronto ao embrenhar-me no sertão por longos anos...
Eu perturbava o camelô da feira aos domingos pra que trouxesse da capital de Goiás uma fita K7 sua. 
O danado do camelô nunca trouxe. Vivia me empurrando música sertaneja. Nada contra. Mas eu queria você, queria o Chico, o Caetano, a Elis, o Raul... e acima de todos... Você!
E nada...

Certa vez, o Zezé (O Camargo mesmo) antes de ser famoso, estava cantando num bar que eu costumava frequentar chamado "O Casarão", lá no Garimpo de Esmeraldas de Santa Terezinha de Goiás, hoje Campos Verdes, onde vivi e fiz de tudo um pouco.
O cara queria cantar as músicas dele, claro!
Queria cantar sertaneja e seus grandes mestres.
E era o que o público queria ouvir...
Mas eu era a perturbação em pessoa, ou melhor, em "torpedos"... bilhetinhos com o nome das músicas, da minha MPB que eu tanto queria e precisava ouvir, levados até ele pelo meu amigo garçom em meio a gordas gorjetas...
O povo tinha um treco a cada pedido meu que ele atendia...
Sorte minha serem na maioria conhecidos os que ali estavam...
Mas não era a praia deles...
Ou era eu a estranha no ninho sertanejo?!?!...
Até que o Zezé, - fiquei sabendo muito tempo depois ter sido ele o cantor daquela madrugada -,  disparou lá da frente em alto e bom som:

- Quem é a carioca na plateia???

Eu, pra lá de chapada depois de tanta cerveja, não hesitei:

- Sou eu aqui! E aí? Vai rolar MPB ou não vai?

Nossa! Meu marido - hoje, ex-com-a-graça-dos-Deuses - quis me matar... literalmente!

- Cala a boca! Tá todo mundo olhando pra cá... Aqui só tem garimpeiro esperando ocasião pr'uma briga...Quer que eu morra, maluca?

- Se morrer te enterro direitinho, amor... Calo porra nenhuma... Vou é lá pegar aquele microfone que se ele não canta, canto eu!


Meu marido fingindo que me abraçava, me manteve presa entre suas pernas e seu "abraço"... Sabendo que se me soltasse eu iria mesmo.
Quando eu ameaçava falar alguma coisa ele me calava com um beijo e uma mordida na língua.
Resolvemos mais tarde entre 4 paredes... Briga de Titãs!
Quem na mesma mesa estava, comentava tanto carinho, tanto amor...
Até era amor, mas amor recheado com o medo de quem conhece a falta de limites do outro e o outro, o ET naquele momento era eu...
Fui atendida com "Ronda" e ponto final. 
As suas músicas que eu mandava em bilhetinhos escritos:

"CANTE ALGO DO OSWALDO MONTENEGRO, POR FAVOR...
Sou carioca e tô com saudades de casa..."
Ass: Marcela 


Não surtiram nenhum efeito, nenhum som, só
"agonia" em minh'alma carente de você... de sua voz... de suas letras...
Até hoje acho que ele nem leu meus bilhetes já sabendo qual garçom que os levavam um após o outro até ele...


Em protesto NUNCA COMPREI E NEM COMPRAREI UM CD DELE!!!
Birra mesmo. Protesto mudo. Greve das coisas d'alma...

E você foi compondo e compondo, Oswaldo...

Rádio? Pegava só na "Hora do Brasil", - aquela merda à pilha!
TV? Passei anos sem...Para que se não havia luz?Quando tive, não te vi na telinha...

Em minha
"agonia"... Em minha saudade de casa, cantarolava "AGONIA" em meio ao cerrado.

Principalmente quando passeava escondida e protegida sob o luar do sertão...

Fiz muitas coisas por lá que não têm a menor importância agora, pois o queria mesmo era voltar...
Regressar pra minha Terra Natal!

Na virada do milênio desci a serra, fugi do Planalto Central e retornei ao meu amado Rio de Janeiro...

Fui morar bem pertinho do Hermeto Pascoal, mas isso é detalhe!
Logo que cheguei, ao passar por uma banca de jornal fiquei paralisada. Era você. Reconheci sua voz vinda de dentro daquela banca. Dei meia volta. O jornaleiro tocava um CD (eu ainda nem tinha visto um...)

Era uma edição popular de
"Escondido no Tempo" que guardo com carinho até hoje...
Meus olhos bateram em seus olhos na capa do CD já em minhas mãos enquanto eu pedia ao jornaleiro para voltar a tocar aquele poema sem parar. 

Faixa 7.
METADE.

Puxei um banquinho e ficamos os dois ouvindo
METADE dezenas de vezes repetidamente.

- A moça vai levar o CD?

- Claro, né?

- Bem... Então escuta mais em casa, moça... É linda mesmo. Oswaldo Montenegro é tudo, mas agora tenho que trocar, senão espanto a freguesia...Tenho que divulgar outros CDs, tá?

- Ah...Tudo bem! Obrigada! Embrulha pra presente, tá?

- Já vi tudo. Tá apaixonada...

- Muito! Por mim mesma! O presente é pra mim!

Tratei de comprar no mesmo dia um bom som e meu apartamento se encheu de MÚSICA, de MPB  e alegria.
E você era o mais tocado...

Mudei algumas regras do condomínio quanto a "Lei de Silêncio", como boa síndica que já era, eleita na falta de quem quisesse assumir o cargo, o que ainda me garantia um bom pró-labore. Já era um jeitinho de Recomeçar.


"Não há por que negar, não uso da razão na hora de"... // querer //...

Hoje, aprendiz de escritora e poetisa, artista dos pincéis e tintas, retomando o abandonado jornalismo aos poucos, tudo o que eu queria era ter escrito
METADE.

Doem muitas dores em mim por ter me
"escondido no tempo" e no espaço...
Por que negar?
Doem sim, mas é na dor que me supero...
E como a intenção de uma simples carta está se transformando em uma ode, melhor ir parando por aqui...

"
Mas onde vou, onde quer que vou, levo o coração feliz... e ponho no meu sorriso o mel..."
As coisas se transformam e isso não é bom nem mal..."


"...Que a Força do Medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a Morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque METADE de mim é o que GRITO,
mas a outra METADE é SILÊNCIO...
Que a música que ouço ao longe seja linda,
ainda que tristeza...
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante...
Porque METADE de mim é PARTIDA,
 
mas a outra METADE é SAUDADE... 
Que AS PALAVRAS que eu falo não sejam
ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor...
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
porque METADE de mim é o que OUÇO,
mas a outra METADE é o que CALO...
Que essa minha vontade de ir embora

se transforme na calma e na paz que eu mereço...
E que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada...
Porque METADE de mim é o que PENSO,
mas a outra METADE é um VULCÃO!!!
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne
ao menos suportável...
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância...
Porque METADE de mim é a lembrança do que fui...
A outra METADE eu não sei...
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer  aquietar o espírito
e que teu silêncio me fale cada vez mais
porque METADE de mim é ABRIGO,
mas a outra METADE é cansaço...
Que A ARTE nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba...
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso SIMPLICIDADE para fazê-la florescer

porque METADE de mim é platéia
e a outra METADE é canção...
E que a MINHA LOUCURA seja PERDOADA
porque METADE de mim é AMOR 

 

 

 

 

e a outra METADE também..."

 


Se eu tivesse escrito METADE, hoje seria INTEIRA, Oswaldo...



Um beijo carinhoso, contido e educadinho na mão DIREITA,


MarCela Torres






Music 
tamanho original  METADE & Leo e Bia tamanho original Oswaldo Montenegro




tamanho original  BraSil  tamanho original



tamanho original  World Music   tamanho original
MarCela Torres
Enviado por MarCela Torres em 02/01/2008
Reeditado em 14/12/2012
Código do texto: T799430
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.