VOCÊ VALE O QUE TEM
Nota:
Em meio ao fervor da polarização política entre Lula e Bolsonaro, uma carta comovente foi escrita em 29/11/2021. Descubra a história de uma amizade despedaçada por diferenças de opinião e pela triste revelação de que, para alguns, somos definidos pelo que temos, não pelo que somos. Só lembrando, sou apartidário e não tenho políticos de estimação e respeito a opinião de todos, mesmo não concordando com algumas.
Querido amigo,
Escrevo estas palavras com um peso no coração, uma mistura de tristeza e decepção que ainda está se instalando. Ontem, descobri uma verdade amarga, algo que machuca mais do que poderia imaginar. Aprendi que, para alguns, nosso valor é medido pelo que temos, não pelo que somos.
A descoberta veio de uma situação que eu jamais esperava vivenciar com alguém que considerava um amigo. Em meio à tumultuada polarização política que assola nossos tempos, uma simples discordância de ideias transformou nossa amizade em cinzas.
Não tenho político de estimação, e isso deveria ser respeitado, mas ao expressar uma opinião contrária, fui atacado com uma ferocidade que só alimenta as chamas da divisão que nos cerca, neste momento “o amor” que era tanto falado, não existiu. Rotulado, insultado, bloqueado em todas as redes sociais, e, para completar, meu nome arrastado na lama.
Dois anos se passaram desde que nossos caminhos se afastaram, até que ontem, como se nada tivesse acontecido, você me procurou. A esperança de uma reconciliação se acendeu em meu coração, mas ela se apagou rapidamente quando percebi suas verdadeiras intenções.
Você entrou na minha casa, não como um amigo buscando compreensão ou perdão, mas como alguém que só se lembra de mim quando precisa. Ao pedir dinheiro e favores, entendi que para você, eu era apenas um recurso, não um amigo.
Ao questionar se poderia ajudar de outra forma, como estou enfrentando dificuldades no momento, sua reação foi avassaladora. Fui acusado de fascista, miliciano e traidor da raça. Como se minha honestidade e transparência fossem golpes traiçoeiros.
Senti-me como uma estátua de santo em uma igreja, observada apenas quando as preces são desesperadas. Meu coração ficou ferido, não por ser chamado de nomes, mas por perceber que nossa amizade era tão frágil a ponto de ruir diante de uma discordância e se despedaçar com a revelação de suas reais intenções.
Guardo em mim um misto de tristeza e compaixão por sua situação, mas também a dor de perder alguém que julgava ser um amigo verdadeiro. A vida nos leva por caminhos inesperados, e talvez um dia, olhemos para trás e entendamos que as diferenças políticas não deveriam ter sido o fim de uma amizade que um dia foi tão valiosa.
Com sinceridade e um coração pesaroso,
Ricardo Mamédio.