UMA CARTA PARA O EDDIE
Querido Eddie,
Acordei preguiçosa e isso me deu gatilho, veio de súbito em minha memória a voz da veterinária falando contigo: “Cadê o Eddie? Você tá acordando? Calma, devagar, tá bom? Devagar rapazinho, devagar...”
Você se foi. Depois de amanhã faz um mês. Você se foi e deixou dois sachês de carne e um saldo acumulado de saudade em meu peito como herança.
Meu gatinho do lixo... te chamava carinhosamente dessa forma porque você foi resgatado da lixeira do condomínio, lembra? Você chegou em minha vida sem saber andar, era apenas uma bolinha de pêlo com olhos estrábicos e um bafinho incurável.
Você adorava ficar sentado no parapeito da janela e observar a vizinhança passar pelo estacionamento, às vezes até ganhava um afago na cabeça. Esporadicamente você caia, mas sabia exatamente onde te encontrar: ou você ficava no corredor ou na escadaria indo para o primeiro andar porque sabia que eu sempre te buscava.
Me culpo por não ter te privado da liberdade, de não ter colocado tela na maldita janela do apartamento, mesmo morando no térreo. Se tivesse feito isso, não estaria aqui chorando nessas linhas por sua perda, mas cumpro pena por sempre reviver nas memórias o estado no qual foi resgatado e levado às pressas para a clínica sob meus prantos, meu corpo doía por inteiro por você, tive febre...
Eu te dei o meu melhor sem esperar nada em troca. Te dei abrigo, comida e muito colo. Espero que me perdoe, pois eu não consigo liberar perdão para mim mesma.
Você tá mordiscando o pé de quem aí em cima, hein?