Ainda
Já me apaixonei por alguém que nunca vi
só o ouvia falar
no dia dia foi se criando laços
talvez aqueles que desamarrem ao caminhar
que me façam tropeçar na beira do meu próprio abismo
todas as minhas paixões colecionei em almas
solidifiquei-as em versos, prosas , músicas, poesias e rimas
que se encaixavam ou se perdiam em palavras emotivas
Já cantei tantas músicas para saudar a saudade
que achei que nunca fosse passar
já amei sozinha e desejei amar alguém mais do que o meu reflexo
éramos tão parecidos e quase tão estranhos
que parecia ter me apaixonado por mim
a minha versão masculina
de ter aversão a mim
eu escrevo incansáveis palavras formadoras de frases
para manter acesa o amor
que a chama as vezes parecer querer se findar.
e eu o amei não porque fazia sentir borboletas voando em meu estomago
ou quando escuto a voz e me dá um frio na coluna
não porque me faz rir com cada brincadeira
ou pelo carinho que me transmite
pelo excesso de cuidado
pelo dengo dividido
mas te amei porque achei que tivesse perdido a capacidade de amar
achei que seria impossível colar os cacos
sentir tesão, prazer, vontades só em ouvir a tua voz
acreditei que tivesse quebrado por dentro
ou que no mundo não haviam mais sentimentos bons que pudessem ser compartilhados
achei que só iria escrever em negrito ou em caixa alta como se eu gritasse
o pedido de socorro mais silencioso e apagado
ninguém mais lê algo
e percebi que voltei a escrever
a fazer música para alguém que me fez apaixonar mais uma vez
então pensei: ainda bem que agora encontrei você
porque?
porque aquele menino que eu subestimei a capacidade de me fazer se interessar
que eu nunca vi
me fez me enxergar de novo quem eu sou de verdade
para muitos pode ser a razão errada de se curar
para mim é que Deus escreve certo, em linhas tortas.
e eu ainda sei amar