Carta à minha mãe🌹♥️
Querida mãe,
Sempre tive vontade de lhe dizer muitas coisas, principalmente em relação ao tempo que ficou sem meu pai, passando por privações e criando os filhos sozinha.
Você ficava naquele isolamento do sítio, e nós adolescentes, felizes por irmos passear na cidade, saímos sem imaginar a solidão com que passaria as noites. Hoje, quando fico só, me dá uma tristeza tão grande ao imaginar a renúncia à vida para nos fazer pessoas de bem, sem pensar um instante na própria felicidade.
Sobreviveu sempre com muitas dificuldades com o trabalho braçal na lavoura e na ordenha das vacas. Como lazer, tricotava, transformando restos de lãs usadas em novos agasalhos para os filhos; o seu era sempre o último. Nunca se afastou de Deus, passando-nos os seus valores e a sua fé.
Continuou sua vida com força e coragem, uma mulher bonita que construiu sua caminhada sem abandonar seu projeto de ajudar os mais necessitados. Deixou um legado junto às demais mulheres vicentinas de Porangaba. Com pouco estudo, mas muito letrada viajou sozinha para a Itália para conhecer seus parentes maternos e paternos. Quanta história trouxe dessa convivência, nos fazendo amar e orgulhar ainda mais da nossa origem.
Os vários acidentes que limitaram a sua mobilidade, já bastante comprometida pela paralisia infantil, não tiraram a sua vontade de viver. Este mês, você completará 100 anos. Confusa mentalmente, depende dos cuidados dos seus cinco filhos vivos para sobreviver com dignidade. Mesmo sem reconhecer e lembrar do meu nome, ainda sorri quando me vê. Deve guardar na sua memória imagens que fazem-a perceber que sou um ente querido.
Ah, mãezinha, nós sabemos quem você foi. Temos uma linda história juntas e uma imensa gratidão pelo que compartilhamos nesta vida. Se pudesse voltaria ao tempo, para vivê-lo intensamente e tentaria ser a mesma pessoa que hoje sou, herdeira de tantas características suas. Obrigada, minha mãe, Dina Becheli!
Sua filha, Estela.